Aprenda a fazer análise textual (Artigo+)

Escrito por: Eduardo Goétia
Edição: Kamo Kronner

Conforme observava a comunidade de escritores, notei o gosto das pessoas por darem e receberem críticas. Na nossa comunidade em específico, notei que os escritores gostam de ajudar uns aos outros. A grande maioria das críticas são bem-feitas e demonstram necessariamente o que o criticado precisa aprimorar naquele momento.

Assim como tudo, críticas precisam ser feitas em etapas.

Fora da nossa comunidade, percebi negativamente que as etapas são completamente ignoradas. Metade das críticas que vi sendo dadas não tinham valor e a outra metade era desorganizada demais para a compreensão de um iniciante. Há níveis e eles precisam ser respeitados.

Não adianta alguém criticar a forma como o escritor constrói um capítulo se ele não sabe construir um parágrafo. Da mesma forma que não adianta criticar a forma como o escritor constrói os parágrafos se ele não sabe construir uma frase corretamente. E isso se estende infinitamente.

Construir um senso crítico é essencial para ser um bom escritor. Conseguir enxergar as falhas no seu próprio texto permite que você os corrija e sempre se aprimore. Nenhum texto é perfeito, e todos precisam entender isso.

Sobre a crítica

Escritores que costumam fazer críticas desorganizadas têm tendências de usar palavras rebuscadas, muitas das vezes que nem significam aquilo que ele queria dizer. Já escutei um deles dizer que um texto era “obtuso”, como se fosse algo positivo simplesmente porque não sabia o significado da palavra. E chamar um texto de obtuso é praticamente dizer que é ilegível.

Se for fazer uma crítica, seja sucinto. Evite usar dúzias de termos e argumente o motivo para achar que aquilo é uma falha ou um acerto.

Para aqueles que recebem a crítica, coloquem na cabeça que vocês não são seus textos. Escritores iniciantes costumam se apegar demais a suas histórias. Qualquer crítica a história passa a ser uma crítica ao seu criador. Coloque então outra coisa na cabeça: a primeira história de um autor jamais vai ser o seu masterpiece.

A história pode ser até boa, mas é impossível que seja o melhor trabalho de um autor. Somente a experiência que se adquire na produção da primeira história já facilita e aprimora os textos subsequentes.

Escrita é estudo e experiência. Tentativa e erro. Desapegue.

Quando receber uma crítica, não explique, não comente, principalmente se for uma negativa. Ninguém vai apontar uma arma para a sua cabeça e dizer que você tem que mudar sua história. Você escuta, tira dela o que achar que tem proveito e com o restante faz o que quiser; descarte ou guarde para outra situação.

Ao fazer uma crítica, se você é incapaz de saber qual o problema de um texto, mas sente que há algo errado, alguma coisa que não bate, pense bem. Até comentários como “essa parte é chata ou confusa” já são alguma coisa, mesmo que você não saiba o porquê.

Quando pedem para você dizer o que “sentiu” sobre um texto, não é para ser uma festa do pijama onde você exprime seus sentimentos. “Meu coração acelerou nesse trecho!” Não! Isto pode ser qualquer outra coisa — uma resenha talvez — mas não uma crítica.

Lembre-se por fim que alguém perdeu seu tempo para lhe ajudar. Pode ter certeza que aquela pessoa que leu seu texto e deu meia dúzia de elogios provavelmente parou no segundo ou terceiro parágrafo da história.

Aquele que se cerca de puxa-sacos está fadado a ser esfaqueado pelas costas.

Elogios surgem naturalmente com o tempo, onde sua escrita chegará ao ponto em que você conseguirá dizer sem esforço no que falhou, no que poderá ignorar e o que pode melhorar. Algum momento este dia chegará.

Tendo tudo isto em mente, como se estrutura uma verdadeira crítica narrativa completa?

A Análise Textual

A critica de uma história é feita em etapas. Antes de qualquer coisa, precisamos analisar o texto isoladamente. Uma análise narrativa não é uma crítica, mas lhe dá todos os pontos para fazê-la. A análise textual é feita em três pontos:

  • Ficção
  • Narração
  • Produção de texto

Os nomes dados a esses pontos são apenas para uma melhor visualização, mas eles não são isolados. Todos eles estão interligados e é impossível se analisar uma coisa sem outra.

Durante uma análise, seguimos a ordem de Ficção, Narração e Produção de Texto, porém, durante uma crítica, fazemos o inverso. Primeiro se analisa a Produção de Texto, pois ela é a base de uma pirâmide. A Narração é o segundo degrau. Por último, no topo, Ficção.

Repito mais uma vez: é impossível analisar um sem o outro!

A Ficção

Também chamada de Enredo, a Ficção é a parte do texto que a grande maioria dos escritores deseja (ou não deseja) receber a crítica e é também a parte que infelizmente os iniciantes menos dão atenção. E ela é feita baseada nestes tópicos: Universo Espaço-Temporal, Personagens e a História.

O Universo Espaço-Temporal

Este toca em três aspectos que dependem um do outro para existir. O espaço, o tempo e o mundo (Universo / World Building).

Qual o período de tempo da história? Ela se passa no passado, no presente, no futuro. Quais as referências usadas? Qual o tipo de prosa? É o nosso mundo? Uma realidade alternativa? Um outro?

Os Personagens

Eles são os agentes e os atores da história. Ditam alguns que os personagens são a coisa mais importante de uma história. Eles são a coisa que move a história para frente.

Quem é o protagonista da história? Ele é um personagem ativo ou passivo? Quais são suas ações? Há outros personagens? Quais as suas ações? Quais são seus papéis na história?

Para aprender mais sobre personagens, acesse nosso artigo sobre Construção de Personagens.

A História

Chegamos afinal no desejo de todo escritor iniciante. Aquilo que eles pensam ser o que faz uma história boa ou ruim, ignorando todo o resto. E normalmente também aquilo que eles menos trabalham. A história é o enredo, a ficção, o famoso: “do que se trata essa história?”.

Qual a premissa do enredo? Para saber disso, precisamos usar os outros pontos para fazer uma análise interna da narrativa. Quais são os desejos do protagonista? A história toca em quais temas? Existe uma moral observável? Ela quer te ensinar alguma coisa? Sobre o que é a história?

Para entender mais sobre a história, acesse nosso artigo sobre Estruturas Narrativas.

A Narração

A Narração é a nossa segunda etapa. A Narração é o que faz alguém conseguir escrever a história sobre a vida de uma barata ou sobre uma melancia ser boa. É por meio dela que o texto é nos entregue. A maneira com que o autor escolheu (espero que tenha escolhido) contar sua história.

A Narração é separada nestes tópicos: Narrador, Narratário, Perspectiva, Ordem, e Ritmo.

O Narrador.

O narrador é o ser que conta a história. Isto mesmo, não é o autor que conta a história. Ele pode escrevê-la, mas quem a conta é o narrador. Narradores, assim como personagens, precisam ser construídos; sejam eles interferentes ou não com os acontecimentos narrados.

Qual o tipo de narrador? Narrador Personagem ou Onisciente? Onisciente Limitado? Uma mistura entre eles?

Lembre-se que isso é uma análise e não uma crítica, ainda, então apenas veja o que a pessoa faz, estando bom ou não, correto ou não.

O Narratário

Assim como o Narrador não é o Escritor, o Leitor não é o Narratário. O Narratário é a pessoa para quem o texto está sendo narrado. A pessoa que você imagina que irá ler a história. É como o público alvo, mas alguns níveis mais profundos. Está não é uma análise de gênero da história, mas uma análise textual.

Neste ponto, você só precisa dizer se o Narratário é Implícito ou Explicito. Como se descobre isso? Se o Narrador falar diretamente com o leitor (imaginário ou não), então é explícito, do contrário é Implícito.

A Perspectiva

Sendo algo difícil de explicar, imagine-se como um fantasma que observa a história de uma certa distância. Essa distância é a perspectiva.

O fantasma então é um ser especial que visualiza a história. Ele pode estar em múltiplos lugares ao mesmo tempo, mas apenas vendo tudo de longe. Ele pode seguir apenas um personagem, mas saber de tudo o que ele sabe, ou talvez não. Ele pode se incorporar na mente dele, e até se tornar um com o personagem. Ele pode ser o personagem. A Perspectiva é simplesmente a distância do Narrador para com os Personagens.

A Ordem

A Ordem são os acontecimentos. Eles são cronológicos, ou há algum tipo de flashback ou outra engrenagem que faça a narrativa se mover no tempo e retornar ao presente do texto.

O Ritmo

O Ritmo é uma análise das ações e descrições do texto. Neste ponto, é necessário saber apenas se o texto tem mais ações, mais descrições, ou se equilibra os dois.

A Produção de Texto

Finalmente a base da pirâmide. Aquilo que não importa o quão bem você faça os outros dois passos, se fracassar, todo o resto perderá a importância. A Produção de Texto é a forma como o texto é escrito. São as escolhas do léxico e da gramática. E são ainda mais importantes quando o conectamos à estilistica e semântica, além de ditar a clareza e coerência.

A Produção de Texto é a forma como o texto é escrito. É como as escolhas de palavras e a formatação das frases afetam a interpretação dos acontecimentos e toda a área artística, com uso de estilística e semântica, além de dizer se o texto é claro e coerente.

Sentido, Clareza e Significado é o que fazem um bom texto.

Os tópicos são: Sintaxe, Estilística, Formatação, Narratário e Tempo Verbal.

A Sintaxe

A Sintaxe é o estudo das palavras nas frases e uma das cinco áreas da gramática normativa. Neste ponto, vemos as escolhas sintáticas do autor. Não é necessário fazer um inventário das frases, mas apenas saber quais o autor usa.

Repetindo, ainda não chegamos na Crítica, então é desnecessário criticar os erros. Apenas descubra que frases o autor utiliza. Suas variações e numerosidades.

A Estilística

Finalmente a parte artística. Aqui é onde a gramática é utilizada como ferramenta para tornar o texto mais divertido e claro.

Ainda não é hora de criticar, mas apenas observar. (mesmo que você veja as piores metáforas e os mais ridículos hipérbatos).

A Estilística é outra das cinco áreas da gramática e ela é conhecida por brincar e reorganizar as outras quatro pelo bel prazer do autor (desde que ele saiba o que faz). Veja quais são as figuras de linguagem usadas e também se há vícios e passe para o próximo ponto.

A Formatação

Este é simples e apenas para entendimento interno. No texto, há alguma formatação diferente? Como por exemplo uso de itálico ou negrito? Se há, é usado em quais situações?

Também observe o uso de pontuações como: aspas, parênteses, dois pontos e travessão e diga em quais situações eles estão sendo usados.

Não importa se está ou não correto. A crítica logo chegará.

Para entender mais sobre a formatação, acesse nosso artigo sobre o Padrão Webnovel.

O Narratário

Outra vez, você observa o Narratário. Desta, você deve descobrir por meio da escolha de palavras o gênero Literário e Ficcional da obra, além de estipular para quem ela foi escrita.

O Tempo Verbal

O Tempo Verbal tem ligação direta ao Universo Espaço-Temporal. Por isso retornamos ao primeiro tópico. É com o tempo verbal que descobrimos algo muito importante sobre a história. Ela está sendo contada diante dos olhos do Narrador, ou de um ponto no Futuro em que ela já terminou. A história pode até estar acontecendo no presente do Narrador. Tudo isto é descoberto na análise do Tempo Verbal.

Também podemos descobrir isso por meio das reações do narrador. Se tudo parece espontâneo, surpreendente ou novo, ou se o narrador já tem conhecimento daquilo, mesmo entre suas variações.

Uma curiosidade. Um narrador Onisciente pode reagir surpreso, pois mesmo sabendo tudo no presente da narrativa, as coisas ainda podem se desenrolar diante dos seus olhos. Do mesmo jeito, um Narrador Personagem pode não se surpreender com os acontecimentos, pois é uma história que ocorreu no seu passado. Vide isso na hora da crítica.

Isto conclui uma análise textual completa.

Chegamos aos finalmente! Concluída a Análise Textual, utilize-a para começar a moldar sua crítica. E ela poderá ser feita em 3 tópicos: A Escrita, O Narrador e o Roteiro.

A Escrita

Como dito anteriormente, faça a crítica em etapas e inverta a ordem. Você começou analisando o Enredo na análise, mas na hora da crítica deve começar pela Produção de Texto.

1. Estilo

Os primeiros aspectos são os vícios de linguagem. Barbarismo, Pleonasmo Vicioso, Ambiguidade, Solecismo, Arcaísmo, Estrangeirismo.

Mas aguarde e pense! Vícios de linguagem também podem ser utilizados de maneira proposital, então tenha muito cuidado e analise bem se são realmente erros, ou escolhas do autor. E, mesmo que sejam, ainda é uma crítica, então veja se está ou não sendo bem utilizado. Se estiver ruim, critique.

Caso contrário, você tem o primeiro aspecto para se criticar no texto. Os principais erros dos iniciantes estão aqui: formas e grafias, a famosa ortografia. E eles são internamente ligados ao Barbarismo e o Solecismo.

É esperado que as frases feitas pelo autor tenham clareza, sentido e significado. Observe bem a sintaxe do texto para ver se encontra os Pleonasmos Viciosos e a Ambiguidade não proposital.

2. Coesão e Coerência

Falando em sintaxe, também observe se há boa variação entre as frases utilizadas e se elas cumprem com o papel de narrar bem os acontecimentos. Repetições constantes de uma mesma estrutura, como por exemplo textos que apresentam apenas construções de frases padronizadas, são aspectos relevantes para uma crítica.

É possível escrever uma história apenas com períodos simples, mas este não é o ideal. Textos coesos tem o uso de conectivos e conjunções intrinsecamente conectados a eles. As frases devem ser claras. Se uma frase é difícil de entender, critique.

3. Procure pela Lógica

Busque sempre a lógica por trás das coisas. Por exemplo, numa história que se passa na Europa Medieval, talvez alguns personagens falarem Arcaicamente não seja um problema, mas seria estranho ter uma centena de gírias. Assim como em um Cyberpunk o contrário ocorrer.

Além do mais, observe o Narratário. Digamos que ele seja apresentado como uma criança, mas o conteúdo interno da história apresente aspectos adultos e não há razão lógica para isso, portanto temos um problema grave.

Sempre procure a lógica por trás de cada ponto e descubra o que não bate com o quê.

4. Exagero Vazio

Neste ponto é que entramos nas figuras de linguagem. Um texto literário clama por figuras de linguagem, então observe se elas estão presentes. Caso contrário, temos um grande problema.

Figuras como a Elipse e o Zeugma são essenciais para o funcionamento e coesão da narrativa. Se eles não são utilizadas, temos um gravíssimo problema.

Se o texto fizer uso de figuras de linguagem, veja se são bem-feitas, principalmente metáforas e comparações. O papel da metáfora no texto serve para criar uma imagem mental e explicar algo complicado de maneira mais rápida. Uma metáfora que alonga ao invés de diminuir é ruim.

Um uso excessivo de figuras de linguagem pode tornar o texto púrpuro demais, mas a falta pode torná-lo bege.

Exagero é algo importante para a narrativa, mas também deve ser observado que seu uso excessivo ou mal-colocado pode acarretar na história não ser levada a sério. Coisas como estereótipos também são desaconselháveis. E tenha cuidado extremo com as famosas narrativas de horóscopo que são aqueles trechos vazios de significado e que não andam com a história.

Observe cada ponto da Análise e veja se não há coisas em falta. Incongruências ficam óbvias quando organizadas na análise.

5. Generacidade

Lembre-se bem então do estilo de prosa dado no texto. Seu gênero literario e ficcional afetam diretamente como a história é contada.

Uma fábula por exemplo não precisa ser tão explícita ou trabalhar bem no Universo Espaço-Temporal, mas é algo bem importante para um Romance de Fantasia ou de Ficção Científica.

Procure por aquilo que é incomodo e que não faça sentido dentro do que foi apresentado.

6. Parágrafos

Observe a construção dos parágrafos. Eles cumprem com o papel de um parágrafo que é introduzir uma ideia, desenvolvê-la e talvez concluí-la? Parágrafos com muitas ideias são um problema.

Também observe a estética do texto. Parágrafos muito longos seguidos de outros muito curtos não fazem sentido. Para tudo tem que ter uma razão. Se essa razão é inexistente, então critique.

7. Tempo Verbal

Alguns textos tem o costume de fazer alterações no tempo verbal e oscilar entre eles. Além de analisar a questão gramatical do tempo verbal, já que ele precisa estar certo, também veja a questão da perspectiva adotada no texto. Se a história é inicialmente narrada no passado, uma mudança sem razão para o presente não faz sentido.

Um exemplo de mudança correta ocorre na obra: “A Bússola Dourada”, que traz a narrativa para o presente em um único capítulo do livro por questões de cinematografia e presente narrativo. Todo o desenrolar da trama naquele ponto estava acontecendo no presente do narrador, portanto os verbos lhe acompanharam. Noutros pontos, isto não era necessário, portanto os verbos permaneceram no passado.

Lutas costuma usar do pretérito imperfeito, porque precisam mostrar uma sensação de ação e velocidade. Descrições e pensamentos reflexivos costumam ter aspectos do pretérito perfeito e às vezes até o mais que perfeito. Tempo verbal também é velocidade.

8. Formatação

Outras observações mais simples tangem a formatação. Pelo costume, usamos travessão para discurso direto em fala. Usamos aspas para discurso direto em pensamento. Alguns utilizam itálico também. A formatação é a padronização e o ponto mais óbvio observado no amadorismo.

Observe também quebras de linhas desnecessárias, caracteres ocultos, como espaços sendo usados como recuo, cores diferentes e fontes diferentes sendo usados como negritos.

A formatação está fora do padrão? Critique. Pode ser uma escolha do autor? Sim, claro que pode. Ainda assim, critique. Nem todas as escolhas estão corretas, ou são as melhores escolhas. Se o autor vai mudar ou não é escolha dele, mas ainda critique.

O Narrador e A Narração

Terminado essa análise da Produção de Texto, passamos para o Narrador. Iniciando pelos aspectos mais básicos de uma narração.

9. Ação e Descrição

Andando de mãos dadas com a construção de parágrafo, observe as ações e descrições do texto.

Nas descrições, simples ou complexas, veja se o que está sendo descrito é coerente. As descrições são boas? Consigo enxergar o que está sendo descrito? Faz sentido lógico ou emocional? Consigo imaginar bem, ou é confuso?

Nas Ações, internas ou externas, veja se são relevantes ou irrelevantes. Elas possuem cunho efetivo, ou estão ali apenas para enrolar. Elas acrescentam algo para o enredo ou tema da história? Elas são uma questão de estética, como se o autor estivesse tentando mensurar aquilo para uma adaptação.

Alguns autores pensam em outras mídias na hora de construir as ações e descrições e não na mídia que importa, que é a escrita. A escrita deve pensar na escrita e não em adaptações.

Há boa variação entre ações e descrições? Lembrando que nunca há de ter uma média perfeita. Histórias mais reflexivas tendem a ter mais descrições e ações internas, enquanto histórias de aventura têm mais ações externas.

Se o texto coordena bem tudo, então ótimo. Caso contrário, critique.

10. Narrador

Seguimos para a Perspectiva. Utilizando-se da Análise, você deve ver se a Perspectiva se encaixa bem na história que está sendo narrada. Foque principalmente na consistência que o texto possui. Caso a Perspectiva se inverta muito e demonstre variações ruins e sem sentido, critique.

O uso excessivo de flashbacks ou saltos no tempo, ou seu mau uso que atrapalha ou incomoda muito a leitura também é outro ponto a ser observado. Se estiver ruim, critique.

Junto da Perspectiva, faça uma análise do narrador da história. É notável a diferença de um narrador bem construído e um que não foi pensado. Variações de perspectivas, pontos de vista ou mudanças na própria voz ou personalidade do narrador são pontos que podem ser criticados.

11. Diálogos

Veja também os diálogos da história. Eles fazem uma boa exposição dos acontecimentos? Demostram a personalidade dos personagens? As interações são boas ou mecânicas? Andam com a história?

Para saber como são bons diálogos, acesse nosso artigo sobre dicas de diálogo e como usar travessão.

Partimos então para o último tópico que está intrinsecamente conectado ao próprio roteiro da história.

O Roteiro (A Ficção)

Todas as histórias possuem um começo, meio e fim.

12. Estrutura

Resumidamente, ao se analisar e criticar uma história é necessário saber seus passos. No começo da história, também chamado de exposição ou apresentação, é necessário que se mostre o mundo conhecido, os personagens e o contexto sobre o que é a história.

Numa crítica, você deve observar se tudo está sendo bem apresentado num bom ritmo. As eventualidades e os personagens são os agentes que movem a história para frente, portanto eles são o foco da crítica.

13. Personagens

Qual o desejo, problema, ou obrigação que deve ser cumprida pelo protagonista? O que faz dele diferente dos outros? Qual o motivo para ele ser o protagonista? Qual a verdadeira necessidade dele? Se uma dessas coisas estiver faltando, critique!

Podemos até usar o desenho Uma Aventura Lego como exemplo. Eles brincam com o arquétipo de um Herói, dizendo que o protagonista tem que ser especial, mas a verdade é que ele é normal. Mas o que o faz ser especial é justamente isso. Ele é o mais normal dos normais.

Animes como Mob Psycho 100 também mostram isso. Se não fossem os poderes, o protagonista seria como qualquer outro comum. Mas não são os poderes que o fazem ser especial e isso é uma lição que aprendemos com o andamento da narrativa.

Mesmo que o seu protagonista não seja especial na personalidade ou por algum poder ou característica, você pode torná-lo especial por uma situação. Podemos ver isso em livros de terror. Somente pelo protagonista estar passando por um evento único, já demonstra que ele é especial. Mesmo que esse evento seja estar preso numa floresta com um demônio.

14. Eventualidades

As eventualidades são os eventos e as ações que movem a história.

Eventualidades podem ser acontecimentos naturais como a erupção de um vulcão ou a queda de um avião. Podem ser situações engraçadas em que algum personagem se meteu e coisas do tipo que retiram os personagens de um estado quo e o colocam em algum conflito.

Eventualidades, Mundo ou Personagens. Uma dessas três coisas devem ser o foco da narrativa. Se todas estiverem em foco, a trama acaba ficando confusa. Caso as três coisas estejam ruins, a história é ruim, portanto critique.

15. Conflitos

Continue sua análise para o desenvolvimento da história. Foque nos conflitos internos e externos. Toda história tem conflito, mesmo que seja ir comprar pão na esquina. Pontos de interesse também são importantes numa história. Se a história estiver sem conflito ou sem pontos de interesse, então critique.

Conforme avança, veja como os conflitos são solucionados. Se tudo o que está sendo apresentado também está sendo trabalhado, então ótimo. Dependendo do gênero da história, principalmente se ela estiver se levando a sério, critique as conveniências ou soluções irrealistas, e também coisas apresentadas de última hora.

16. Curva de Tensão

Numa história, a curva de tensão deve ser ascendente até o clímax. Claro, durante sua narrativa, podemos ver leves diminuições e subidas para não pressionar o leitor e nem deixá-lo entediado. Contudo ela não deve cair demais nem subir demais até o clímax do arco, capítulo ou sequência da história.

Se a história tiver uma tensão muito alta antes do clímax, diminuir de repente e depois tentar subir de novo, vai ocorrer um efeito indesejável. O contrário também pode vir a acontecer.

A resolução é quando a curva de tensão desce e é o momento de respirar. É onde nos localizamos na situação de cada personagem e vemos então um dos pontos mais importantes para uma boa história: o seu fim.

A Narrativa se define fundamentalmente na passagem de um estado (inicial) para um outro estado (final). A Narrativa é a mudança.

17. Comparação e Contraste

Na resolução devemos comparar o início e o fim da história e ver o que mudou. Se nada mudou, então não temos uma história. O contraste é o que faz de uma história uma boa história.

Podemos usar fábulas como bons exemplos. Apesar de serem curtas, você pode ver que há grandes mudanças do começo para o fim da história.

18. Arcos de Personagem

Dependendo da profundidade da história, você pode observar arcos de personagem. Eles auxiliam no desenvolvimento de personagens e mostram suas mudanças.

Arcos planos são aqueles que os personagens não mudam do início ao fim. Justamente são os protagonistas que mudam os outros personagens ao seu redor.

Luffy de One Piece é um exemplo. Na literatura, podemos usar Poirot de exemplo no livro O Assassinato no Expresso do Oriente.

Arcos negativos são aqueles que os personagens começam a história positivamente e terminam numa situação bem pior do que no início.

Thorfinn de Vinland Saga é um exemplo. Na literatura temos Katniss Everdeen protagonista de Jogos Vorazes e Capitão Ahab personagem de Moby Dick.

Arcos positivos são aqueles que o personagem começa numa situação negativa e ascende para uma situação positiva diferente do início.

Naruto é um exemplo. Na literatura temos Harry Potter como exemplo.

Histórias podem ter dezenas de arcos. Pense em cada arco como uma peça de um grande quebra-cabeça necessário para formar uma narrativa completa.

Seguindo toda essa lógica, você saberá quais são os problemas internos de uma história.

Agradecemos às nossas queridas Madrinhas e o nossos queridos Padrinhos por nos acompanhar e proporcionar mais esse presente à nossa comunidade!

Boa sorte com a análise!

Escrito por: Kamo Kronner

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