Aspas, dois-pontos ou hífen? Não! Use travessão!

Quando lemos várias obras escritas por amadores, acabamos encontrando diversas formas de expressar diálogos e discursos diretos.

Veja alguns exemplos que podemos encontrar por aí:

Personagem X: Eu não pude estar aqui quando aconteceu.
[Personagem Y] Mas eu te avisei ontem!
<Personagem X> É que eu esqueci. Me desculpe.
- Não te desculpo. Terá que pagar por isso. - disse Personagem Y.
"Como eu posso pagar por isso se não tenho nada em mãos?" Personagem X reclama.
Discutiremos sobre isso mais tarde. Termina Personagem Y.
(Personagem X) "Está bem."

Tá. Você mostrou vários exemplos de como podemos escrever os diálogos, mas, então, qual é o certo?

Ora. Muito simples. Todos os exemplos anteriores estão errados!

Aqui no Brasil utilizamos um caractere chamado travessão (—) que pode susbstituir parênteses, vírgula, dois-pontos e também indicar discursos diretos como diálogos, além de isolar e destacar termos e frases.

Com tantas funções assim, podemos até nos perder, mas tenha calma que vou explicar neste artigo, principalmente como usar em diálogos.

Antes de continuarmos, é importante saber que travessão não é hífen.

Esse é o travessão: —

Essa é a meia-risca: –

Esse é o hífen: -

Viu a diferença no tamanho? Mais à frente vou explicar bem isso.

Vamos primeiro explicar o que é um discurso direto.

    Discurso direto

    O herói, em seu último suspiro, disse: — Agora posso descansar em paz. O demônio está morto.

    No trecho acima, a frase "Agora posso descansar em paz. O demônio está morto." é um discurso direto, diferente da forma abaixo:

    O herói, em seu último suspiro, disse que agora ele pode descansar em paz e que o demônio está morto.

    O exemplo acima mostra como é escrita um discurso indireto, onde uma terceira pessoa descreve a fala de outra.

    Discursos diretos, diferente do discurso indireto acima, possuem regras próprias e distintas de uma prosa simples e possuem as seguintes características:

    • É uma transcrição exata da fala dos personagens;
    • Ocorre sem a participação do narrador;
    • Pode ser introduzido ou indicado por verbos de elocução que anunciam o discurso, também chamados de verbos dicendi (dizer, perguntar, responder, comentar, falar, observar, retrucar, replicar, exclamar, aconselhar, gritar, murmurar);
    • É antecedido pelo travessão, que indica quando começa a fala de uma personagem e quando há a mudança de interlocutores; e
    • Quando é uma citação é delimitado por aspas.

    Os discursos diretos podem ser apresentados nas seguintes formas:

    Personagem X fala: — Eu não pude estar aqui quando aconteceu.
    Personagem Y responde: "Mas eu te avisei ontem!".
    — É que eu esqueci. Me desculpe — explica Personagem X.
    — Não te desculpo. Terá que pagar por isso.
    — Como eu posso pagar por isso se não tenho nada em mãos?
    — Discutiremos sobre isso mais tarde.

    O primeiro exemplo é do discurso direto anteriormente introduzido pelo verbo dicendi "fala".

    É pra eu usar esse, então?

    Meu caro. Apesar da forma estar gramaticalmente correta, não é o padrão adequado em escrita de webnovels e light novels.

    Um ponto importante a ser declarado aqui é que este blog é focado em escrita na forma de webnovels e light novels e, portanto, adotamos padrões utilizados nesse formato de mídia de publicação. Indicarei aqui o "certo" para esses padrões, mas não necessariamente é a única forma correta.

    Vamos analisar o segundo exemplo. É empregada as aspas inglesas ("") para indicar o discurso direto.

    É esse que vou usar então! Aspas é fácil!

    Opa! Espere aí, jovem padawan. Não seja tão precipitado! O uso de aspas é aceito na comunidade. É um recurso herdado do inglês e encontramos muitas traduções e originais empregando o uso de aspas inglesas em todos os discursos diretos. Por esse motivo também ocorrem muitos erros de emprego das aspas, pois ela possui regras de pontuação que muita gente não sabe.

    A intenção aqui é simplificar e não complicar. Portanto recomendamos fortemente que não utilize aspas em discursos diretos. Aliás, aspas portuguesas são essas: « ».

    O uso de aspas, no entanto, pode ser empregado nos seguintes casos:

    • Isolar palavras ou expressões que fogem à norma culta, como gírias, estrangeirismos, palavrões, neologismos, arcaísmos e expressões populares.
    • Indicar uma citação direta como o narrador descrevendo o conteúdo de um bilhete.
    • Indicar pensamento de personagem quando narrador é em terceira pessoa.

    Tá legal. Não usarei aspas, mas uso o quê, então?

    Voltando aos exemplos dos personagens X e Y, a partir do 3º discurso há o emprego usual do travessão, onde a fala é iniciada com travessão somente, sem a introdução com dicendi e dois-pontos.

    Esse é o formato que recomendamos escrever sua história.

    Vou explicar, a seguir, o porquê.

    Por que o travessão?

    Tem uma coisa importante a ser frisada. Apesar de possuirmos padrões próprios da escrita de novels, não tiramos isso do nada. Não é invenção nenhuma de nossas cabeças.

    Primeiramente, a Academia Brasileira de Letras, referência da norma culta da língua portuguesa-brasileira, estabelece que o nosso vocabulário tem como base o vocabulário de Portugal.

    Isso apenas quer dizer que se não há uma regra específica do vocabulário brasileiro, o que vale é a regra de Portugal.

    Pois bem, a única diferença entre o vocabulário brasileiro e o português, com relação ao travessão, é na ligação de palavras que formam um percurso, como "Estrada Rio—Minas". Em Portugal é utilizado o hífen no lugar. No restante, o uso do travessão é o mesmo.

    Agora é que acontece uma história curiosa. Mesmo analisando as regras europeias, que obedecemos em questão de travessão, não é estabelecido o uso de travessão para indicar discurso direto, mas sim para alternar interlocutor.

    Agora estou confuso. É ou não é para usar travessão?!

    Calma que eu não terminei de explicar. No item 10.4.4. alínea b da mesma regra, há menção do uso em discurso direto em complemento aos dois-pontos. Mesmo no item 10.4.8., a alínea b utiliza o travessão como início de fala, sem dizer que serve para aquilo.

    O que acontece é que o gênero literário escrita na língua portuguesa, acabou por adotar o travessão como indicador de falas de personagens.

    Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.

    — Anda, condenado do diabo! — gritou-lhe o pai.

    O texto acima de Graciliano Ramos em Vidas Secas, mostra o uso comum do travessão em uma obra literária.

    O emprego do travessão como indicador único de discursos diretos, como falas de personagens, se tornou comum até hoje devido à necessidade de apresentar com fluidez as tais falas. A forma normatizada ": —" não possui essa característica, sendo lida com mais pausa do que o necessário. Você irá observar que nas sessões seguintes, com o uso do travessão, também é desnecessário anunciar o personagem toda vez. Portanto, no gênero literário, o travessão tomou o lugar do dois-pontos, sendo o único anunciante de discursos diretos quando o discurso inicia o parágrafo.

    O uso do travessão de forma especial é característica do gênero literário como um todo, onde acontece uma sucessão de falas de personagens, um em seguida de outro. Em novels — web ou light — não é diferente.

    Agora que entendeu — eu espero — o porquê de utilizarmos o travessão em falas de personagens, vamos ver como utilizar.

    Usando o travessão em diálogos

    Pneu furado

    O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo "Pode deixar". Ele trocaria o pneu.

    — Você tem macaco? — perguntou o homem.

    — Não — respondeu a moça.

    — Tudo bem, eu tenho — disse o homem — Você tem estepe?

    — Não — disse a moça.

    — Vamos usar o meu — disse o homem. E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça. Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar. Dali a pouco chegou o dono do carro.

    — Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado.

    — É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.

    — Coisa estranha.

    — É uma compulsão. Sei lá.

    — Luis Fernando Veríssimo

    O exemplo acima, mostra o uso padrão do travessão que esperamos na escrita literária e, consequentemente, em webnovels e light novels.

    Utilize o travessão para iniciar a fala de um personagem

    Independente de onde se iniciar a falar de um personagem, no início do parágrafo ou no meio, anteceda-o com o travessão

    Exemplos:

    — Com licença, posso te servir uma bebida?

    A moça se virou e respondeu: — Claro que pode.

    — Por favor, traga duas doses aqui — grita o rapaz para o garçom.

    A primeira fala é mais comum e o parágrafo inteiro é a fala do personagem.

    Na segunda fala há a presença do narrador iniciando o parágrafo e em seguida a fala da personagem. É uma forma incomum, porém válida.

    Discursos diretos assim podem ocorrer se é importante narrar a ação que antecede a fala. Se a narração é somente indicação do locutor, evite essa forma. Se fosse somente "A moça respondeu", colocaria essa oração após a fala, como no terceiro exemplo.

    Chamamos o formato "NARRAÇÃO: — DISCURSO" de discurso direto normatizado e o formato "— DISCURSO — NARRAÇÃO" de discurso direto convencionado, pois o parágrafo com discurso direto que comece com travessão só ocorreria, pela norma, a partir do segundo locutor/personagem. No entanto o costume é utilizar o convencionado, evitando o uso do normatizado na literatura. Não é errado usar o normatizado. Apenas evite.

    Você também pode encontrar os seguintes termos se referindo à mesma coisa: "diálogo precedido por trecho narrativo" e "diálogo seguido de trecho narrativo". Mesma coisa, outros nomes.

    Use duplo travessão para continuar a fala

    Às vezes quando uma fala é muito longa e é importante indicar qual personagem está dizendo aquela frase, podemos inserir o dicendi no meio da fala e em seguida continuar.

    Exemplos:

    — Eu me perdi na floresta — disse o viajante — e acabei me atrasando, mas ainda bem que nem começaram os preparativos.

    — O padre estava à sua procura — disse a sacerdotisa. — Ele o aguarda no salão.

    É bem comum encontrar falas assim e é perfeitamente aceitável, no entanto evite o exagero em ficar intercalando entre o personagem e o narrador. Esse formato "personagem — narrador — personagem" é o recomendado nesse caso.

    Exemplo:

    — Eu não vi você entrando — disse a moça surpresa. — Poderia dizer qual o seu nome — continuou após analisar o rapaz — para que eu possa registrar sua visita?

    O exemplo acima — ou contra-exemplo — mostra um discurso com intercalação de locutor — narrador e personagem — de forma um pouco exagerada.

    O que ocorre nesse exemplo é que gramaticalmente está correta, no entanto pode fazer com que o leitor confunda, no meio, a parte do narrador e do personagem.

    Nesse caso, podemos alterar o texto para:

    — Eu não vi você entrando — disse a moça surpresa e, após analisar o rapaz, cotinuou: — Poderia dizer qual o seu nome para que eu possa registrar sua visita?

    Mas você disse para evitar a forma normatizada!

    Sim, eu disse, mas aqui é só um exemplo, ok? Essa foi uma transformação fiel ao original, sem a perda de nenhum sentido. Veja agora como poderia ficar:

    — Eu não vi você entrando — disse a moça surpresa, analisando o rapaz. — Poderia dizer qual o seu nome para que eu possa registrar sua visita?

    O importante nesses exemplos é ter em mente a clareza da função do travessão. Se você escreveu de forma que esteja claro para o leitor, tudo bem.

    Mais à frente irei explicar como pontuar entre os travessões. Agora vamos ver como fazer a troca de personagem em um diálogo.

    Troca de personagem

    Pai e filho estavam conversando.

    — Pai, por que o céu é azul?

    — É porque o Sol manda luz azul na Terra.

    — Mas o Sol não é vermelho?

    — O Sol tem todas as cores, filho.

    — Como o arco-íris?

    — Sim. Como o arco-íris.

    — Então por que o céu não é colorido.

    — Ele é, mas só mostra uma cor por vez. Lembra que no fim da tarde fica até vermelha?

    — Sim, pai. É quando o Sol fica tímido e se esconde.

    O texto simples acima mostra a estrutura básica da troca de personagem em um diálogo.

    O travessão no início do parágrafo indica a troca de personagem que está falando.

    Essa é a regra básica. Simplesmente para trocar de personagem que fará o discurso, comece outro parágrafo e inicie com travessão.

    Parágrafo é a divisão de um texto escrito, indicada pela mudança de linha, cuja função é mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto.

    Nos diálogos, cada fala de personagem é tratado como um parágrafo, herdando a sua formatação.

    Para a escrita manual — em folha de papel — quando o parágrafo termina, pulamos de linha e começamos outro parágrafo logo abaixo com um espaçamento de 2 dedos da borda esquerda na primeira linha.

    Pode até ignorar a informação acima, mas tá aí pra quem quiser saber.

    Para a escrita digital — pelo smartphone ou computador — há algumas regras mais específicas:

    • Começar a primeira linha com 1 cm de recuo (opcional para webnovel);

      No Word: Vá em opções de Parágrafo e, na seção Recuo, altere o campo Especial para Primeira linha e o campo Por para 1 cm.

      No Docs: Vá no menu Format, no item Align & Indent e então no item Indentation options. Altere o campo Special indent para First line e o valor para 0.4 se estiver em polegadas e 1 se estiver em centímetros.

    • Deve haver um espaçamento entre páragrafos de 1 linha (Espaço de 2 Enters ou Retornos);

      No Word: Vá em opções de Parágrafo e, na seção Espaçamento, altere o campo Depois para o mesmo tamanho da fonte que usa. Se for 11, coloque 11 pt.

      No Docs: Vá no menu Format, no item Line spacing e então no item Add space after paragraph.

    Ah... Você quer saber como fazer isso no Wattpad? No wattpad não há como definir o recuo, então você pode dar alguns espaços no começo, mas o recuo em webnovels é opcional. Quando ao espaçamento, se escrever no computador, o Enter já irá adicionar o espaçamento adequado e, no smartphone, aperte Retorno duas vezes.

    Agora que está explicado quanto ao parágrafo, vamos explicar um pouco mais sobre a troca de personagem.

    Se observar novamente o texto de exemplo, pode perceber que não foi utilizado nenhum verbo dicendi para indicar qual personagem está falando. Mas... você teve dúvida de qual personagem estava falando?

    A questão é simples quando há somente 2 personagens no diálogo. O parágrafo indica de quem é a vez quando lido sequencialmente. Agora vamos ver o próximo exemplo:

    — Poderia pegar o saleiro, por favor?

    — Eu não. Pega você!

    — Deixa que eu pego! Aqui está. Hehe.

    — Obrigada.

    — De nada. Haha!

    Saberia responder quantos personagens existem no diálogo acima e identificar cada um? Eu acho que você consegue, mas caso não tenha conseguido, aqui vai a cola:

    Resposta:

    Personagem A: — Poderia pegar o saleiro, por favor?

    Personagem B: — Eu não. Pega você!

    Personagem C: — Deixa que eu pego! Aqui está. Hehe.

    Personagem A: — Obrigada.

    Personagem C: — De nada. Haha!

    Se você acertou, isso ocorreu porque é notório a personalidade de cada personagem, A, B e C, e parágrafos entre discursos estão bem definidos para identificar na sequência.

    • Personagem A se mostra ser uma pessoa educada.
    • Personagem B se mostra ser uma pessoa rude ou mal-humorada.
    • Personagem C se mostra ser uma pessoa alegre.

    Como não mostrei nenhum nome ou característica além da personalidade, A, B e C seria a única forma de distingui-los, porém isso mostra que é possível, com uma apresentação anterior dos personagens, construir um diálogo onde a troca de personagem é notória e facilmente indentificável.

    Uma das principais funções do diálogo através do discurso direto é carregar a narrativa com personalidade. Se fosse apenas para relatar o coteúdo da conversa, seria apenas necessário escrever discursos indiretos do narrador, mas o leitor por muitas vezes quer entender e sentir a emoção daquela interação e quanto mais próximo da realidade e fluido é o diálogo, mais imersão o leitor sentirá.

    Caso queira se aprofundar nessa questão, sugiro a leitura do nosso guia sobre "Mostrar, não contar".

    Agora que sabemos como trocar os personagens em um diálogo, vou mostrar como nomear ou indicar qual personagem está falando durante o diálogo.

    Como usar verbos de elocução ou verbos dicendi

    Afinal de contas, o que é esse tal de dicendi que tanto fala?

    Pois é. Agora que entendemos um pouco sobre a estrutura de diálogos, finalmente posso te explicar o que é um verbo dicendi, também conhecido como verbo de elocução ou simplesmente verbo do "dizer".

    Pra começar, dicendi é um termo em latim que significa dizer.

    "Fulano disse tal coisa." Basicamente o "disse" é a função básica dos verbos dicendi.

    Verbos dicendi indicam qual interlocutor está com a fala. Aponta qual personagem está falando no diálogo e de que maneira.

    Além de mostrar quem está falando também pode mostrar como está falando.

    — Benis, você viu aquela maga do outro lado? — sussurra Sirus para seu amigo.

    — Eu vi. Será que ela aceita formar um grupo com a gente? — responde Benis.

    — Vamos ver. Ei! Você aí de chapéu! — grita Sirus para a maga.

    — Hã? É comigo? — indaga a maga.

    — Sim, você mesma! Venha aqui sentar conosco!

    — Sirus, pare. Tá todo mundo olhando — sussura Benis.

    — Estou ocupada. Adeus.

    — Viu só. Você a assustou.

    — Pelo menos tentei, ué.

    Entre sussurros e gritos, esse pequeno trecho se desenrolou e foram apresentados seus interlocutores e suas personalidades.

    Os verbos dicendi utilizados alí foram:

    • sussura
    • responde
    • grita
    • indaga

    Esses verbos indicaram quem estava falando, com qual tonalidade e, no caso do verbo responde, para quem estava falando. Essas são as 3 propriedades básicas que o narrador pode desempenhar durante o diálogo.

    Vou listá-los para anotações:

    Verbos dicendi indicam:

    Quem fala

    Como fala

    Para quem fala

    Faremos um artigo inteiro sobre verbos dicendi para você se apronfundar mais.

    O importante aqui é como inserimos o verbo dicendi nos diálogos. Há 3 formas:

    • Normatizada
    • Nomartizada com atração remota
    • Convencionada
    • Convencionada com atração remota

    Já expliquei anteoriormente sobre as duas formas normatizada e convecionada. Primeiro veremos exemplos da normatizada:

    • O homem ao sentar no trono disse: — Ajoelhem-se!
    • A dama, que passava ao meu lado, sussurrou: — Tome cuidado com o homem de chapéu cinza.
    • O guarda me parou e gritou: — Pare! Aonde vai com esse animal do lado?

    Como pode perceber os verbos dicendi estão logo antes do discurso se iniciar, colado no dois-pontos.

    Também é possível colocar o verbo dicendi com atração remota nessa forma. Veja:

    Foi então que o velho disse, em um tom amargo: — Já vivi o suficiente. Termine.

    No exemplo acima o adjunto adverbial "em um tom amargo" ficou entre o discurso e o dicendi. É possível inserir advérbios, locuções adverbiais e adjuntos adverbiais entre o verbo e o discurso.

    Agora vamos ver o convencionado:

    • — Gostaria de saber se poderia me acompanhar nesta jornada — disse o viajante ao cavalo.
    • — Era pra você ter chegado às 7 horas — disse Senhora Collins, batendo o pé.

    Ao contrário da forma normatizada, o verbo dicendi vem logo após o discurso na forma convencionada, inserindo somente o travessão entre o verbo e o discurso.

    Perceba que o verbo é grafado em minúsculo nessa forma, assim como na outra. O travessão após dicurso, quando há presença do verbo dicendi, se comporta como a vírgula, não encerrando o período e, portanto, a frase continua em minúscula.

    Aí é que temos de tomar cuidado, pois a pontuação se altera quando deslocamos o verbo.

    Como pontuar diálogos com dicendi ou trecho narrativo comum

    • — Gostaria de saber se poderia me acompanhar nesta jornada — disse o viajante ao cavalo.
    • — Gostaria de saber se poderia me acompanhar nesta jornada — o viajante disse ao cavalo.
    Se o trecho narrativo contém o verbo dicendi em qualquer posição, então o discurso deve terminar sem ponto-final e o trecho narrativo iniciar em minúsculo.

    Mesmo que o dicendi esteja afastado do discurso, ele continua desempenhando o papel de dicendi.

    Existem verbos também que não se referem à forma de falar do personagem, mas que podem ser colocados no trecho narrativo. Nesse caso sem atração com o discurso. Veja:

    • — Meu Deus... Não acredito. — Tapou sua boca sem falar mais nada.
    • — Sempre quis ganhar um desse! — Pulou de alegria, a criança.
    • — Nem mais um passo. — Apontou a linha no chão.

    Chamamos esses trechos de trecho narrativo comum. São textos auxiliares que podem mostrar, por exemplo, movimentos dos personagens durante o discurso, no entanto os verbos presentes ali não desempenham o papel de dicendi, pois descrevem "movimento" e outras ações que não sejam o da fala.

    Como pôde perceber, a pontuação nesse caso também é igual de quando o dicendi está afastado do discurso, ou seja, ponto-final no discurso e inicia o trecho com maiúsculo.

    Agora vamos ver como pontuar em discurso com duplo travessão.

    • — Não me venha com papo furado — exclama Amanda — seu safado, sem vergonha!

      Esse é um caso mais simples onde tenho uma oração subordinada do discurso, após o trecho narrativo. Nesse caso o duplo travessão faz o papel da vírgula.

    • — Calma que vou explicar — disse Gary. — Isso foi antes de te conhecer.

      Nesse caso aqui, temos dois períodos separados pelo trecho narrativo (dicendi). Quando o que vem após o trecho narrativo for outro período e não a oração subordinada do discurso anterior, pontuamos o trecho narrativo com ponto-final e o discurso seguinte inicia em maiúsculo.

    • — Isso não muda o fato de você ter ficado com ela. — Amanda agarra a gola de Gary. — Eu quero saber se você ainda sente algo por ela.

      Aqui temos um caso onde o trecho narrativo não é dicendi. Quando é assim, as 3 partes do texto — o 1º discurso, o trecho narrativo e o 2º discurso — são períodos, cada uma. E por período, sabemos que cada um finaliza com ponto-final, a não ser que termine com interrogação, exclamação ou reticências.

    • — Sim, eu sinto — responde Gary —, mas o que sinto por você é bem maior e não se compara em nada com o que sinto por ela.

      Esse último é um caso especial onde a oração subordinada, após trecho narrativo com dicendi, inicia com conjunção que requer vírgula antes, sendo nesse caso o "mas".

      Existe uma discussão acerca dessa regra, mas o nosso conselho é "evite". Quanto menos complicado for a sua escrita, mais fácil será de o seu leitor compreender.

      Se for necessário esse tipo de construção do discurso, pode até deixar de usar a vírgula, pois não afetará tanto a compreensão, desde que você tenha escrito de forma clara para isso.

    Vou mostrar um contra-exemplo:

    — Você não sente nada por mim... — Amanda levanta a outra mão. — Enquanto pensa nessa vadia!

    O discurso acima, como continuação do diálogo anterior, mostra uma estrutura de "DISCURSO — TRECHO NARRATIVO COMUM — ORAÇÃO SUBORDINADA DO DISCURSO". Existem poucas referências a essa estrutura e é pouco praticada. E, portanto, não há regra específica para esse caso e pode chegar a confundir o leitor.

    Afim de demonstrar clareza e pensando no leitor, prefira reconstruir para formas mais conhecidas. Veja:

    — Você não sente nada por mim — disse Amanda, levantando a outra mão — enquanto pensa nessa vadia!

    Transformei o trecho narrativo comum em dicendi e não precisamos nos preocupar mais com a pontuação, ficando igual à regra do primeiro discurso do diálogo de Amanda e Gary.

    Sempre leve em conta a necessidade de se contruir a fala de um personagem de uma maneira ou outra. O resultado deve ser claro para o leitor compreender. Jamais utilize as formas complexas "porque sim", mas insira o contexto e a razão de ser daquela maneira.

    Essas foram as regras de uso do travessão em diálogos. Vamos ver agora como usar fora de diálogos.

    Travessão fora de diálogo

    Uma outra função do travessão é destacar trechos narrativos e palavras. O motivo pode ser para chamar a atenção ou substituir parânteses, aspas, vírgulas e até dois-pontos.

    • Naquela sala escura só se ouvia uma coisa — as batidas do coração.
    • Quando Gary — o safado e sem vergonha — fugiu, Amanda tinha certeza do que iria fazer.
    • Ele não conseguia pensar em mais nada — pelo menos à noite.

    O uso mais comum do travessão, fora de diálogo, é para destacar apostos, mas há vários usos dele como nos exemplos acima.

    Estamos chegando no final deste artigo e agora vou mostrar pra vocês como vocês podem inserir o travessão em seus textos, tecnicamente falando.

    Como inserir o travessão no texto

    O travessão é um dos caracteres especiais que, infelizmente, não está presente no nosso teclado ABNT. Por isso precisamos realizar alguns artifícios.

    • No Windows

      Alt(Esquerdo)+0151(Teclado numérico)

    • No Word

      AltGr+Num -

      Ctrl+Alt+Num -

      Na ferramenta "AutoCorreção" adicione a seguinte entrada:

    • No MacOS

      ⌥ Opt+⇧ Shift+-(menos)

    • No Smartphone

      Em algumas versões do Android e no iOS, pressionando -(hífen), irá surgir opções de meia-risca(–) e travessão(—).

      Caso não tenha a opção, alguns aplicativos substituem o duplo hífen (--) por travessão, automaticamente.

    • Truque geral

      Uma forma que funciona em qualquer dispositivo é você colocar duplo hífen (--) no lugar do travessão. Assim, quando terminar de escrever o seu texto, poderá utilizar uma ferramenta de substituição de texto e substituir todos os duplo hífens por travessão. Nesse caso pode copiar e colar o travessão de algum lugar.

      Usamos duplo hífen porque se usarmos o hífen simples iríamos substituir também os hífens corretos, como em "mal-entendido".

    Última coisa a ser falado do travessão é com relação ao espaçamento. Também vou listar abaixo os casos.

    • No início da fala: Sem espaço à esquerda e 1 à direita.

      Venha cá.

    • No meio da fala, antes e depois do trecho narrativo: 1 espaço antes e depois do travessão, precedido de pontuação ou não.

      — Venha cá chamou a Senhora Collins.

      — Você quer comprar aquele cavalo? perguntou o mestre.

      — Enquando estamos parados disse João poderíamos contar nosso mantimento.

    • No meio da fala, depois do trecho narrativo com conjugação que requer vírgula: 1 espaço antes do travessão e outro depois da vírgula.

      — Não queria te falar — disse Gary —, mas acabei a beijando.

    Simples? Difícil? Na questão do espaçamento também há uma discussão, pois há pontos divergentes entre o inglês e o português. No português ficou com esses 2 espaços, 1 na frente e outro atrás. No inglês ainda não tem um consenso ainda.

    Agora o resto é com você.

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    Caso queira falar conosco, venha conversar com a gente no nosso discord.

    Até o próximo artigo!

    Escrito por: Kamo Kronner

    8 comentários :

    1. Rapaz quanta informação, vai me ajudar para um caramba
      Gostei pra caramba

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    2. Parabéns pelo artigo.

      Muito explicativo e com excelente dicção. Uma verdadeira obra-prima.

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    3. Tirou as minhas dúvidas sobre a questão da pontuação.

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    4. Traga um oscar para esse mito! Parabéns pelo artigo! Esse estudo é um divisor de águas para qualquer iniciante e quem já conhece o jogo, depois dessa base posso finalmente começar a escrever.

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    5. Estou no joguinho da Novel Brasil e estudando no Grimório! Obrigado professor.

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