O que é PULSO?

Por mais que conflito (leia nosso artigo sobre conflito) e personagem sejam importantes na criação de uma narrativa, sozinhos, eles não tornam uma narrativa boa. Um conflito pode ser completo, mas chato. Um personagem pode ser tridimensional, mas sem graça. Uma história pode se encaixar em todas as definições técnicas de uma “boa história”, mas pode ser clichê e desinteressante.

Então, o que está faltando? A diferença entre ótimas narrativas e narrativas decentes é que as ótimas têm um bom PULSO.

O que diabos é PULSO e Pulso de Enredo?

Bem, por mais que a tradução não seja a mais correta do inglês — PULSE — a palavra é um acrônimo para: pacing — traduzido seria ritmo — universalidade, lógica, substância e ovacionar.

Agora, para explicar o que é Pulso de Enredo, além de dissecar cada uma das palavras do acrônimo, é preciso também entender o uso dele na escrita.

No início da criação dos filmes, a capacidade de um rolo de projetor não era suficiente para mais do que quinze minutos de filme. Portanto, os criadores de filmes precisavam de algo emocionante acontecesse no final da bobina para manter o público intrigado o suficiente para permanecer nas poltronas enquanto o projecionista preparava a próxima bobina.

O mesmo princípio acontece na escrita, ainda mais na escrita de webnovel!

É uma medida necessária do autor que algo emocionante aconteça — ou seja, o uso de pulso no enredo — a cada 500 a 1.000 palavras, para que o leitor não fique entediado.

Por mais que conhecer teorias de estruturas para a obra seja importante — por exemplo, a estrutura de três atos — uma abordagem orgânica talvez não seja uma má ideia.

Um “PULSO” pode dar a sua obra um ritmo — uma batida — para manter o “coração” da trama batendo.

Pode ser um ponto de ação: Carla serve o champanhe envenenado.

Pode ser uma emoção: Eduardo é dominado pela tristeza na cama.

Um personagem: A ex-namorada de Renan aparece no tribunal.

Pode ser qualquer coisa que o autor deseje. A ideia é aumentar o “batimento cardíaco” da sua obra, para dar vida à história.

Dentro de uma obra, principalmente uma webnovel, esse tipo de coisa, além de auxiliar em seu enredo, também ajuda na utilização e indicação de cliffhanger, tensão, conflitos e por aí vai. É uma exposição permitida pela organicidade literária e da arte. São pequenos trechos que ajudam o leitor se preparar para algo que que vai acontecer.

E isso é só a ponta do iceberg desse maravilhoso PULSO que pode executar em sua história. E, lembre-se, o que foi explicado acima é apenas o Pulso de Enredo. Mas antes de falar sobre isso, tem que ser entendido cada uma das palavras que estão encaixadas dentro desse elemento.

Pacing (ritmo): Como a história se move

Os leitores não querem uma história chata — ou como dizem, “lenta”. Ainda assim, o pacing não é velocidade literal, mas a rapidez com que o autor vai de um ponto de ação a outro.

Depois que um conflito é estabelecido, o leitor deseja vê-lo resolvido e, embora queira ver cada passo que leva à resolução, não quer que demore uma eternidade. E, para controlar esse “ritmo” em sua história, você precisa fazer duas coisas: eliminar tudo o que for desnecessário, mas fornecer ao leitor informações suficientes para responder quaisquer perguntas importantes sobre a história por conta própria. Pode até ser um equilíbrio complicado, mas é seu trabalho como autor aprender a balancear.

Não tenha medo de ser brutal: você pode ter que cortar algumas de suas falas, momentos e personagens favoritos, mas se a história não estiver progredindo de forma constante, é a coisa certa a se fazer. Lembre-se que você também serve ao personagem. Entre cada assassinato em uma história de terror os personagens têm momentos de silêncio para explorar o que devem fazer a seguir para ficarem seguros ou emoções em torno de uma perda recente. Esses momentos dos personagens aumentam a utilidade da história e devem permanecer.

Normalmente, um bom pacing é contribuído de: cena de ação → cena de personagem → cena de ação.

Universalidade: Relevância para o leitor

Leitores gostam de histórias com as quais possam se identificar. Universalidade significa que o leitor pode se relacionar com a história ou personagens em um nível pessoal. Às vezes, os leitores podem se identificar com o foco base da obra — por exemplo, Crepúsculo é livro que tem foco o público feminino jovem — mas você não pode contar com isso: você não sabe exatamente quem é o seu público, já que pode ser literalmente qualquer um.

Por conta disso que os autores tentam criar o que é chamado de substituto do público; um personagem comum que pode não ser igual o leitor, mas que consegue a simpatia dele. Afinal, os leitores gostam de se ver em um personagem. Quando um personagem se sente traído, feliz ou triste, os leitores devem ser lembrados de momentos em suas vidas em que passaram pelo mesmo.

A conexão emocional que um leitor pode fazer com uma história é chamada de catarse e é por isso que as pessoas consomem arte — porque querem sentir.

E, para aproveitar o trecho, deixo aqui uma passagem de um autor incrível:

“As pessoas leem ficção pela emoção — não pela informação.” – Barnaby Conrad

Lógica: História que faz sentido

Histórias que têm lógica se tornam mais agradáveis aos leitores. Elas permite com que o leitor “jogue junto”. Mistérios são o melhor exemplo disso. O leitor está tentando descobrir quem cometeu o crime junto dos personagens, mas esse espírito de tentar prever o que acontecerá a seguir faz parte de toda experiência de leitura. Mas, para jogar, é preciso ter regras, então você deve configurar uma lógica de história consistente.

Claro, isso não significa que a sua história precisa seguir a lógica do mundo real. O personagem pode ter magia, viajar no tempo, lutar contra monstros, alienígenas e todo tipo de maluquice que não existe no mundo real, mas tudo precisa ter regra.

Por exemplo, a lógica da história de Harry Potter afirma que a magia é real, mas tem limites, já que nem todos podem utilizar. Ao utilizar a magia para resolver um problema no final, faz sentido, pois se encaixa na lógica da história. Mas, se alienígenas descessem e derrotassem o Voldemort, o leitor se sentiria enganado porque o livro ia contra a própria lógica.

Por isso que estabelecer forte exposição e foreshadowing é importante: os leitores se sentem recompensados quando uma obra está de acordo com as suas expectativas — embora surpresas que se encaixem na lógica da trama sejam sempre bem-vindas.

Substância: Escrita que "vale" a leitura

Visto que ler uma narrativa é um grande investimento de tempo e energia, os leitores desejam ser recompensados pela história. Apenas entreter pode não ser o suficiente: leitores querem algo da história que os deixe em melhores condições em suas vidas diárias. Ou seja, a história deve ter algum tipo de substância — ou, se preferir, conteúdo — intelectual ou moral que confirme uma crença já existente ou forneça novas informações interessantes.

Ficções podem demonstrar crenças culturais como o amor conquistando tudo, a bondade e a decência vencendo o mal e o trabalho árduo valendo a pena. E também podem introduzir algo novo por meio dos personagens e cenários que os leitores não veem na vida cotidiana, além de ensinar algo sobre si mesmo. A melhor maneira de ter substância densa é escrever com um tema em mente.

Ovacionar: Faça os leitores amar

Leitores ovacionam quando encontram uma história com ideias que não encontraram antes e que são maravilhosas. Esses tipos de histórias normalmente têm personagens com traços únicos, estranhos talvez, mas são tão agradáveis que o leitor deseja conhecê-los.

São histórias dotadas de situações nas quais os leitores nunca pensaram, mas podem relacionar — situações nas quais se questionam ativamente o que fariam no lugar do personagem. Com ideias tão interessantes que faria com que os leitores desejassem de ter pensado nelas primeiro e com passagens memoráveis que ficam na mente de quem leu.

Como aplicar PULSO?

Bem, agora que sabe quão profunda é a ideia do PULSO (clique aqui para ler), é hora de abordar mais formas de impulsionar a sua história. Não esqueça, o PULSO serve para a organicidade do seu texto. Por mais que aborde bastante sobre exposição, é algo que você deve aprender a administrar.

Por mais que conflito e personagem sejam importantes na criação de uma narrativa, sozinhos, eles não tornam uma narrativa boa. Um conflito pode ser completo, mas chato. Um personagem pode ser tridimensional, mas sem graça. Uma história pode se encaixar em todas as definições técnicas de uma “boa história”, mas pode ser clichê e desinteressante.

Então, o que está faltando? A diferença entre ótimas narrativas e narrativas decentes é que as ótimas têm um bom PULSO.

Foreshadowing:

O foreshadowing é um elemento da uma história... Pode ser uma linha de diálogo ou descrição que dê dicas do que vai acontecer no futuro.

A fantasia faz isso de modo indireto por meio de profecias sobre o futuro dos personagens. Porém um escritor capaz pode sugerir o futuro de maneiras sutis. A previsão requer que o final seja escrito primeiro. Para colocar um foreshadowing, olhe para o clímax e veja o que pode ser incluído anteriormente: um personagem diz uma frase que poderia ter um significado diferente antes? Poderia um objeto usado no clímax aparecer em cenas antigas? Esse seria um bom momento para falar da Arma de Chekhov.

Prenunciar — não vou conjugar foreshowing — melhora a lógica de uma história — ao conectar ideias — e o ovacionar — ao recompensar o leitor por prestar a atenção.

Flashback:

Um flashback é quando a história salta para um evento anterior ao do conflito atual. Os flashbacks vêm de duas formas: memória do personagem e anacronismo.

Na memória do personagem é onde a ação atual lembra um personagem de um evento passado, que é descrito em alguns parágrafos pela narração ou pelo personagem através do diálogo. Esses são bons flashbacks e ajudam no ritmo, espalhando a exposição e a lógica, conectando o passado e o presente do personagem.

O anacronismo é onde a história literalmente rompe usando uma quebra de página ou capítulo para voltar e “representar” o evento passado. Essas cenas perturbam gravemente o ritmo e precisam ser cuidadosamente usadas, para que não perca o pacing e a lógica da obra.

Imaginário:

Embora o imaginário seja uma parte do estilo, é a chave na criação do PULSO. Ao passo que a longa descrição retarda o ritmo de uma obra, um imaginário sólido acompanha o pacing enquanto ajuda no ovacionar. Invés de optar por: “Felipe tinha olhos azuis, peles escura, era alto e atlético; Marcela amava a cor dos olhos dele”, a qual para ou retarda a ação, a descrição poderia ser incorporada para dizer: “Felipe não era atraente para Marcela, até que a olhou: a encarada daqueles olhos azuis a fizeram se arrepiar, contrastando com a sua pele escura e o separando dos demais jogadores no campo”.

Reversão:

As melhores histórias trazem surpresas aos seus leitores, e as melhores surpresas vêm de conflitos. É aqui onde ocorre a reversão; onde a situação muda repentinamente de progressiva — movendo em direção ao clímax — para a regressiva — um novo problema impede o progresso.

Uma grande reversão pode acontecer em qualquer ponto da história, mesmo depois do que parecer ser o clímax de um final falso.

As reversões são uma ótima maneira de criar tensão em uma trama e revelar novos detalhes do personagem que não teriam vindo à tona se não tivesse uma nova situação para lidar.

Descobertas:

Leitores só se preocupam com personagem que mudam, e, para mudar, os personagens precisam descobrir algo novo sobre si mesmos, sobre outro personagem ou a vida em geral.

Ao contrário das reversões, que estendem o conflito, as descobertas ajudam o pacing ao pausar a ação por um momento para dar a um personagem ferramentas emocionais — ou literais — de que ele precisará para enfrentar o clímax.

Enquanto os leitores seguem o protagonista e tentam ver através de seus olhos, às vezes você precisa fazer uma pausa para explorar uma descoberta, assim como o personagem faria na vida real. Isso ajuda no pacing, na lógica e, principalmente, na substância:

Utilize um parágrafo para que um personagem pondere os prós e os contras de uma decisão ou para observar exatamente onde eles estão, isso mostra ao leitor o que é importante em uma história.

Transições:

A lógica e o pacing de uma história sofrem se as transições entre as seções não forem eficazes. Na narrativa as transições mais importantes são as de ações.

Sempre que algo importante acontece em um ponto, como a ação de um personagem ou a revelação de informações importantes, os outros personagens devem reagir às informações de uma forma que conduza à próxima ação da trama. Momentos de transição de reação devem ser vistos como dominós ajustados para cair: se as ações estão distantes demais, o dominó não vai acertar e a obra encontrará um furo de roteiro.

Ciffhanger: Em Busca da Raiva do Leitor

Antes de abordar o que é um cliffhanger, quero que pense algo...

Lembre-se de um livro que te forçou a continuar lendo. Aquele mesmo que foi incrível e teve uma leitura emocionante. Aquele que te levou madrugar com ele em mãos porque queria saber o final o mais rápido que podia.

Você vê o tempo passar tão rápido e quanto mais perto do fim, mais ansioso você fica.

Bom, não preciso dizer mais do que isso. Provavelmente você caiu no maldito gancho do autor!

Escrito por: RenCmps

0 comentários :

Postar um comentário