Nobiliarquia e Informações Úteis para Ficção
Esse documento serve como referência para quem tem vontade de utilizar títulos de nobreza na sua história. Podem adicionar ou alterar quaisquer definições aqui, caso achem necessário, pois a criação do mundo fica a critério de quem está fazendo — só é necessário ter cuidado quando for passar ao leitor.
Vale ressaltar que irei abordar principalmente o padrão utilizado no Reino Unido não-contemporâneo, pois hoje em dia tem muita coisa “pra inglês ver” — desculpe, não resisti a piada — e os títulos de nobreza significam praticamente nada, a não ser que a pessoa seja herdeiro do trono. Então irei basear essa lista principalmente no modelo adotado por eles por volta do século XVII.
Contudo, existem muitos títulos populares em diversas obras que não eram usados ou eram diferentes no Reino Unido, então colocarei uma anotação nesses casos.
Outra observação, apesar de óbvia, é que os cônjuges recebem o tratamento relativo ao título do parceiro, mas não significa que elas tenham o título dele. Mulheres recebem a nomeação do parceiro + consorte. Porém os homens receberiam um título inferior ou precisariam da ajuda do governante para que concedesse um título (a rainha Elizabeth II vive distribuindo títulos de nobreza pros familiares e os parceiros deles).
Vale ressaltar que o título é diferente do estilo! (Rei = título | Sua Majestade = Estilo) Um duque (que comanda um ducado) que fosse casado com uma rainha seria promovido a príncipe consorte. Sendo anunciado da seguinte forma:
Sua Alteza Real, o Príncipe Consorte Crocodilo, Duque da Novel Brasil!
Outra coisa importante de avisar é que a realeza, via de regra, casava com alguém com linhagem real — ou pelo menos da alta nobreza. Apesar de algumas famílias tenderem ao incesto, casamentos entre a realeza de nações diferentes também eram bem comuns.
Alguns termos são importantes de conhecer:
- Vassalo: No sistema feudal, indivíduo que, mediante juramento de fé e fidelidade a um suserano, se tornava dependente, rendendo-lhe respeito e tributo.
- Suserano: Aquele que tinha domínio sobre um feudo de que dependiam outros feudos.
- Feudo: Grande propriedade territorial que possuía sua organização econômica, política, social e cultural. Este espaço era utilizado para produção e fonte de renda autossustentável.
- Nobre: Alguém nascido em uma família distinta. Ser um nobre não significa deter um título de nobreza.
- Herdeiro Aparente: Aquele que é o próximo na linha de sucessão de um título. Ex: o filho mais velho de um rei é o herdeiro aparente do trono, assim como os descendentes mais velhos dele.
- Consorte: É o cônjuge de alguém com título de nobreza. A maior parte das monarquias não tem regras formais sobre o estatuto de consorte, principalmente quando for masculino, de modo que é comum essa pessoa não ter quaisquer títulos.
Outra informação beeem importante é que, se um nobre de um dos três mais altos títulos nobiliárquicos (duque, marquês e conde) possuir mais de um título, seu filho mais velho pode usar um dos títulos inferiores de seu pai, "por cortesia".
Contudo, seu pai continua sendo o real detentor do título, enquanto que o filho é considerado um nobre por parentesco, mas sem um título de nobreza!
Se o filho mais velho de um duque ou de um marquês tiver um filho mais velho, este pode ainda usar outro título inferior (de seu avô), caso este exista.
Por exemplo: o Duque de Norfolk é também o Conde de Arundel e Lorde Maltravers. Seu filho mais velho é portanto estilizado Conde de Arundel, enquanto que seu neto é Lorde Maltravers. Porém, apenas o Duque de Norfolk tem títulos de nobreza. Seu filho, Conde Arundel, e seu neto, Lorde Maltravers, não têm títulos de verdade.
Antigamente o soberano de um território era basicamente o rei daquele território, mandando e desmandando, então membros da alta nobreza podiam conferir quaisquer títulos abaixo do dele caso tivesse território para dar ao portador do título.
A Rainha Elizabeth II costuma dar mais de um título para as pessoas justamente por isso, pois as nomeações não garantem mais um território ao portador.
Muitas vezes, como no Brasil, os títulos não eram passados hereditariamente, então nesse caso os descendentes não poderiam usar os títulos mesmo que o pai ou avô tivesse mais de um.
Realeza
Imperador / Imperatriz
Título do detentor: Imperador / Imperatriz
Título cedido à parceira: Imperatriz Consorte
Título cedido ao parceiro: Rei Consorte, Príncipe Consorte ou Vice-Rei (Depende muito)
Território: Império (Com o nome do território principal + os subordinados)
Tratamento: Sua/Vossa Majestade Imperial
Quem manda no império. Para ser considerado império, é necessário ter um território muito grande ou outros domínios subordinados. Frequentemente o representando do império em outro país seria chamado de Vice-Rei — para deixar mais evidente quem mandava.
Em questão do significado da palavra, o imperador estaria acima de qualquer um e qualquer coisa, sem obrigações com ninguém. Vale lembrar que o Papa estava indiscutivelmente acima de todos os reis que não detinham o título de imperador, pois os monarcas precisavam da aprovação do líder da igreja católica para validar seu poder.
Correspondente ao Kaiser na Alemanha e ao Czar na Rússia.
Rei / Rainha
Título do detentor: Rei / Rainha
Título cedido à parceira: Rainha Consorte
Título cedido ao parceiro: Príncipe Consorte Exemplo: Filipe, Duque de Edimburgo)
Território: Reino
Tratamento: Sua/Vossa Majestade Real
O rei pode ser absolutista ou não e sua relevância variava muito. No começo da Idade Média eles não tinham quase nenhum poder e dependiam totalmente dos outros nobres, sequer tendo um exército muitas vezes.
Com o passar do tempo eles foram ganhando mais governança na maioria dos lugares, concedendo títulos e territórios aos seus apoiadores e familiares.
Vale ressaltar que um rei poderia ter muito poder, mas mesmo assim não conseguiria governar sem o apoio dos seus vassalos mais importantes.
Príncipe / Princesa
Título do detentor: Príncipe / Princesa
Título cedido à parceira: Princesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Princesas geralmente eram casadas com homens importantes, mas, se o parceiro não tivesse, receberia um território e título correspondente. Exemplo: Mark Phillips receberia um condado e título de Conde.
Território: Principado, mas somente quando não há um rei (geralmente são bem pequenos, como Mônaco, ou não tem independência total). Um príncipe herdeiro costuma governar um ducado ou similar, até assumir o trono.
Tratamento: Sua/Vossa Alteza Imperial (quando império) ou Sua/Vossa Alteza Real (quando reino)
Em Portugal e Espanha, os filhos que não fossem herdeiros diretos ao trono eram chamados de Infante, porém ainda eram tratados por vossa alteza por serem da família real.
É comum encontrar na ficção coisas como Segundo Príncipe, contudo, na maioria das monarquias o herdeiro ao trono já tem um título adicional para distingui-lo dos outros príncipes (Ex.: Príncipe Real, Príncipe Imperial, Príncipe da Coroa, Príncipe Herdeiro, etc.). Os outros filhos seriam apenas Príncipes, sem numeração.
Arquiduque / Arquiduquesa
Título do detentor: Arquiduque / Arquiduquesa
Título cedido à parceira: Arquiduquesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Nunca se aplicou
Território: Arquiducado Austríaco / Império Austríaco
Tratamento: Sua/Vossa Alteza Imperial (Explicado no comentário abaixo)
Este título foi usado apenas pelos Habsburgo, sendo a titulação dos descendentes da realeza na Áustria, ou seja, o próprio imperador era um arquiduque, assim como os filhos e filhas dele. Nenhuma outra família usava essa nomeação.
Grão-Duque / Grão-Duquesa
Título do detentor: Grão-Duque / Grã-Duquesa
Título cedido à parceira: Grã-Duquesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Príncipe Consorte ou outro título de nobreza, como Duque ou Conde, referente a alguma parte do território do Grão-Ducado.
Território: Grão-Ducado
Tratamento: Sua/Vossa Alteza ou Sua/Vossa Alteza Grã-Ducal (quando da realeza) Sua/Vossa Graça ou Sua/Vossa Graça Grã-Ducal (quando não eram da realeza).
Geralmente esse título era dado pelo atual rei ou imperador ao herdeiro aparente (direto) do trono, principalmente pelos russos. Em alguns lugares, atualmente apenas Luxemburgo, o Grão-Duque era o governante supremo de um território independente pequeno.
Alta Nobreza
Duque / Duquesa
Título do detentor: Duque / Duquesa
Título cedido à parceira: Duquesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Geralmente nenhum, título de Conde ou Barão de um território dentro do ducado (conferido pela esposa) ou algum outro título caso outorgado pela realeza.
Território: Ducado — Geralmente a maior porção de território que era conferido a um nobre. Apenas algumas pessoas eram duques. Eles poderiam ter vários vassalos (condes, viscondes, barões e baronetes) dentro de seus territórios. Um duque muitas vezes tinha mais poder militar que o próprio rei.
Tratamento: Sua/Vossa Graça ou Sua/Vossa Graça Ducal (Quando não eram da realeza).
Marquês / Marquesa
Título do detentor: Marquês / Marquesa
Título cedido à parceira: Marquesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Geralmente nenhum, título de Barão de um território dentro do ducado (conferido pela esposa) ou algum outro título caso outorgado pela realeza.
Território: Marca ou Marquesado — Os marqueses tinham um território com tamanho menor que um ducado e parecido ao de um conde, porém em zonas de fronteira com outros reinos, então eram considerados de maior importância estratégica e militar.
Tratamento: Sua/Vossa Graça ou O Muito Honorável (Quando não for o título concedido temporariamente ao filho de um duque)
Muitas vezes o título de marquês era dado ao filho mais velho de um duque, que ostentava essa denominação (muitas vezes sem ter o controle de um território) até que o pai morra e ele receba a posição de Duque.
Conde / Condessa
Título do detentor: Conde/ Condessa
Título cedido à parceira: Condessa Consorte
Título cedido ao parceiro: Geralmente nenhum, título de Barão de um território dentro do condado (conferido pela esposa) ou algum outro título dado pela realeza.
Território: Condado — Uma porção de terra menor que um ducado, podendo estar submetido a um duque ou não. Poderia ter um castelo ou mais, contudo, após certo período esse título e todos abaixo não concediam mais terras, apenas atestavam um grau de nobreza. Poderia ter viscondes, barões e baronetes submetidos a ele.
Tratamento: Sua/Vossa Graça
Baixa Nobreza
Visconde / Viscondessa
Título do detentor: Visconde / Viscondessa
Título cedido à parceira: Viscondessa Consorte
Título cedido ao parceiro: Geralmente nenhum, pois já é um território menor de um nobre pequeno, mas seria possível obter um título com ajuda da realeza.
Território: Condado — Uma porção de terra menor que um condado, geralmente estavam submetidos a um conde e/ou duque. Poderia ter barões e baronetes submetidos a ele, mas seria mais difícil. O filho mais velho de um Conde, costumava receber o título de Visconde, pois a obrigação original dessa função era atuar no lugar do Conde quando ele não estivesse presente.
Tratamento: Sua/Vossa Graça
Barão / Baronesa
Título do detentor: Barão / Baronesa
Título cedido à parceira: Baronesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Geralmente nenhum
Território: Baronato — Uma porção de terra menor que um condado, geralmente estavam submetidos a um conde e/ou duque. Poderia ter barões e baronetes submetidos a ele, mas seria mais difícil. O filho mais velho de um Conde, costumava receber o título de Visconde, pois a obrigação original dessa função era atuar no lugar do Conde quando ele não estivesse presente.
Tratamento: Senhor ou Honorável (em inglês seria Sir e The Honorable)
Baronete
Título do detentor: Baronete
Título cedido à parceira: Baronetesa Consorte
Título cedido ao parceiro: Não se aplica
Território: Tenência ou Tença — Uma porção de terra pequena, como uma pequena aldeia com um ferreiro e um estábulo.
Os baronetes eram homens de uma ordem de cavaleiros que recebiam o direito de ter um título hereditário devido a contribuições com seu senhor feudal.
Tratamento: Senhor / Sir
Cavaleiro
Título do detentor: Cavaleiro
Título cedido à parceira: Dama / Lady, caso esta fosse de origem nobre
Título cedido ao parceiro: Não se aplica
Território: Tenência ou Tença — Uma porção de terra pequena, como uma pequena aldeia com um ferreiro e um estábulo. No caso de cavaleiros, a concessão do título nem sempre estava vinculada a um terreno, pois a palavra de origem também estava atrelada ao soldo que os soldados recebiam.
Tratamento: Senhor / Sir
Em teoria, qualquer um da nobreza e outros cavaleiros poderiam sagrar cavaleiros, contudo, isso envolveria por a imagem e nome da própria família em jogo. Então apenas as famílias mais proeminentes mantinham ordens de cavaleiros, com alguns poucos indivíduos excepcionais sendo sagrados fora desse círculo — muitas vezes no campo de batalha.
Ser um cavaleiro significava proeminência marcial e seguir um código rígido de conduta — as famosas virtudes da cavalaria — então até mesmo o filho de um Duque não seria nomeado cavaleiro sem que pudesse merecer o título.
Escudeiro ou Ajudante de Campo
Título do detentor: Escudeiro ou Ajudante de Campo
Título cedido à parceira: Não se aplica
Título cedido ao parceiro: Não se aplica
Território: Não se aplica
Tratamento: Sua/Vossa Graça
Basicamente um cavaleiro em treinamento ou dama de companhia de alguma nobre importante. Pessoas jovens, e no caso das mulheres sempre solteiras, que passavam boa parte do tempo aprendendo com veteranos. Os homens aprendiam esgrima, equitação, outras habilidades para combate e gestão do território. Mulheres aprendiam como se comportar na corte — posteriormente elas podiam praticar hipismo também.
Mais algumas informações provenientes do padrão do Reino Unido:
O filho mais velho de Duque recebe o tratamento de lorde e utiliza o título subsidiário de maior ranque que possua seu pai como título de cortesia, ou em outros casos um título subsidiário de um avô ou bisavô que seja de menor ranque ao que ostente seu pai.
O filho mais velho de um marquês é tratado como "senhor" e utiliza o título subsidiário de maior ranque que possua seu pai como título de cortesia, ou em outros casos um título subsidiário de um avô ou bisavô que seja de menor ranque ao que ostente seu pai.
O filho mais velho de um conde é tratado como "senhor" e utiliza o título subsidiário de maior ranque que possua seu pai como título de cortesia, ou em outros casos um título subsidiário de um avô ou bisavô que seja de menor ranque ao que ostente seu pai.
Senhor / Senhora (em inglês seria Lord / Lady ) — tratamento honorífico recebido por crianças pequenas e todas as filhas de duques, marqueses e condes.
A Honorável / O Honorável (em inglês seria “The Honourable'') — tratamento que recebem todos os filhos e filhas dos viscondes, barões e baronetes.
Os tratamentos anteriores tipicamente são extensíveis aos cônjuges legais daqueles que ostentam. Porém, quando a filha de um nobre se casa, ela passa a estar na mesma posição e recebe o mesmo tratamento que seu marido, exceto quando este não for nobre.
Vale dizer que os filhos que não são herdeiros do título da família costumavam ter um tratamento não muito nobre. O segundo filho homem costumava ser enviado para a igreja e o restante iria ficar à própria sorte. As filhas seriam casadas com algum nobre e ficariam submetidas ao marido.
Deixo aqui alguns exemplos de situações que poderiam ocorrer nas obras de vocês:
Se uma filha de um Conde, mesmo que filha única, se casasse com um barão, ela seria tratada como Baronesa. O território da família, que seria dela caso fosse homem, geralmente passaria para algum primo ou tio, que herdaria o título de Conde daquele lugar — mesmo que ele já tivesse um título maior, como Duque por exemplo, então ele poderia “emprestar” esse título a um filho ou neto posteriormente.
O filho mais novo de um Duque não receberia título algum, contudo, caso o irmão mais velho morresse misteriosamente e sem herdeiros, ele receberia os direitos que eram do irmão — às vezes recebiam até as esposas junto. Posteriormente recebendo o título e território de seu pai, quando este morresse.
A esposa de um Visconde após a morte do marido, poderia acabar em quatro vertentes:
- Se o filho fosse muito novo, ela seria a Viscondessa (sem consorte) e governaria o território até a maioridade do filho, quando ele herdaria o título de Visconde.
- Se o filho fosse velho o suficiente, ele assumiria o título de Visconde imediatamente. Sua mãe ficaria com um título de respeito, porém sem poder real. Caso ela casasse novamente com um Barão, por exemplo, viraria Baronesa Consorte do território do novo marido.
- Se tivesse apenas filhas, receberia alguma ajuda e posteriormente teria as filhas com casamento arranjado com alguém relacionado ao novo soberano do Viscondado.
- Se não tivesse filhos, seria expulsa do território e este passaria a ser administrado por algum parente homem do marido, ou devolvido ao Suserano.
A filha mais nova do rei, casada com um Conde, seria tratada da seguinte forma: Sua Alteza Real, Fulana de tal, Condessa de algum lugar — invés de vossa graça. Pois os membros da realeza estavam sempre acima dos nobres sem parentesco real.
Tem mais alguma dúvida específica? Me chama no discord que eu adiciono aqui!
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