Exposição: O que é, e como usá-la em suas histórias

Artigo original escrito por Joe Bunting e publicado em: https://thewritepractice.com/exposition/

Como boas histórias começam? No meio da ação? Com um lento desenvolvimento até a ação? O que você entende sobre exposição, e como isso pode ajudá-lo a escrever histórias melhores?

Exposição é um termo literário que lida com o começo de uma história.

Neste artigo, definiremos o que é a exposição, falaremos sobre como ela se encaixa na estrutura dramática, veremos exemplos de exposições em romances, peças e filmes e finalizaremos com algumas dicas sobre como fazer um bom uso da exposição em

Definição Literária

Exposição é um conjunto de cenas com o objetivo de apresentar ao público os personagens, o mundo e o tom da história. É relativamente curta e não apresenta grandes mudanças na trama.

Embora o foco deste artigo seja em escrita, o termo também é usado em música, marketing e escrita acadêmica, onde se refere a uma argumentação compreensiva de uma teoria ou ideia.

Origem do Termo

A palavra exposição origina-se de duas palavras do latim, expōnere e expositio, que significam “exibir”, “dar início” e “explicar”.

Isso serve para entender o que acontece na exposição de uma narrativa: O início de uma introdução, a forma como um autor nos apresenta as peças de sua história, incluindo os personagens, o cenário e os elementos do enredo antes da história realmente começar.

O meio musical também nos dá pistas sobre o que acontece na exposição. Uma exposição é a primeira sessão de uma fuga ou sonata, onde os principais temas melódicos são apresentados. Do mesmo jeito, em uma história, a exposição pode ser o lugar onde o tema e as ideias principais são introduzidos.

Sinônimos de exposição, em narrativas, incluem introdução e às vezes gancho.

Conhecer as origens da definição literária da exposição pode ajudá-lo a usá-la com propósito em cenas que serão responsáveis pela estrutura da sua história.

Como a Exposição se encaixa na Estrutura Dramática

A estrutura dramática são os elementos que compõem o movimento de uma história. Em The Writing Practice, nós identificamos seis pontos ou elementos do enredo:

  • Exposição
  • Incidente Incitador
  • Ação Ascendente/Complicações Progressivas
  • Dilema
  • Clímax
  • Desenlace

Na estrutura dramática, a exposição ocorre no início da história e tem como objetivo configurar o Incidente Incitador, que é o momento em que a ação se inicia.

Em Geral, Quão Longa é a Exposição?

Como histórias são sobre mudanças e conflitos de valores, a exposição, que não contém mudanças, é geralmente curta.

A maioria das exposições leva apenas duas ou três cenas, e às vezes acabam sendo apenas meia cena.

Por exemplo, em O Hobbit, existem apenas algumas páginas de exposição antes de Gandalf convidar Bilbo para uma aventura.

Agora pense em como isso se encaixa na definição literária de exposição – como ela estabelece o Condado, o tom da história e o cenário peculiar, que mudará drasticamente quando Bilbo partir.

Exemplos de Exposição

Veja alguns exemplos de exposição na literatura:

Romeu e Julieta

Em Romeu e Julieta, a exposição é relativamente longa, ainda mais dependendo de onde você considere que Incidente Incitador ocorra:

  • Servos das duas principais famílias da cidade, os Montecchio e os Capuleto, brigam nas ruas.
  • Romeu, um jovem Montecchio, está desanimado após ter sido rejeitado por uma mulher, e seus amigos tentam animá-lo.
  • Julieta, a filha dos Capuleto, se irrita com seus pais por terem arranjado um pretendente para ela.
  • Os amigos de Romeu o convencem a ir a uma festa na casa dos Capuletos.

Nesta festa, Romeu conhece Julieta e se apaixona à primeira vista, criando o Incidente Incitador. É então que começa a ação principal da peça.

Mas não é até a quinta cena que esse Incidente Incitador ocorre, o que torna este um dos exemplos mais longos de exposição.

Nota: Outros autores também consideram o convite da festa dos Capuleto como sendo o incidente incitador, fazendo com que a exposição dure apenas três cenas.

Duração da exposição: Quatro (ou três) cenas

Gravidade

Diferente de Romeu e Julieta, o filme Gravidade, sobre um astronauta tentando sobreviver a um desastre no espaço, tem uma exposição bem curta.

A história começa com a doutora Ryan Stone (Sandra Bullock) e o astronauta Matt Kowalksi (George Clooney) que estão em uma caminhada espacial no Telescópio Espacial Hubble.

Mas sua caminhada é interrompida, quando um míssil causa uma reação em cadeia de detritos espaciais que ameaça destruir grande parte da espaçonave.

O ataque do míssil e a reação em cadeia dos detritos ocorrem logo no final da primeira cena, o que significa que a exposição dura menos de uma cena.

Duração da exposição: Menos de uma cena

As 6 Dicas para Criar uma Ótima Exposição

Agora você se pergunta, como fazer uma ótima exposição? Aqui vão algumas dicas, focadas na definição de exposição, e no seu papel na narrativa:

1. Comece com o valor central da sua história

Como falamos em nosso artigo sobre arcos narrativos, cada história tem uma escala de valor central, e quando você começa uma narrativa, sua primeira cena deve ser clara sobre o valor central da história.

Existem tradicionalmente seis escalas de valores:



As narrativas sobem e descem na escala desses valores. Uma história de amor pode começar no meio da escala de Amor X Ódio, subir durante o encontro, cair durante uma separação e terminar no topo da escala de amor.

Na exposição, parte do seu trabalho é estabelecer em que escala sua história está avançando. Você pode até fazer uso de vários desses valores, mas o seu valor principal deve ser claro desde a primeira cena.

Você está contando uma história de aventura na escala de Vida X Morte? Então comece com seu primeiro momento de Vida X Morte.

Está contando uma história sobre um time competindo para ganhar um torneio? Então comece com uma cena que lide com Realização X Fracasso.

Ou será que você está contando uma história sobre Bem X Mal? Neste caso, mostre ao público um momento em que o bem confronta o mal logo no início.

A exposição não serve só para apresentar seu cenário e as informações de seus personagens principais. Ela também tem a função importante de introduzir os valores em conflito da sua história.

Então, ao começarmos a fazer uso desses valores e se mantermos eles em mente durante o resto da história, perceberemos que a narrativa acaba se tornando muito mais coesa e consistente.

2. Apresente algum conflito - só porque não há nenhuma mudança importante não significa que não existe nenhum tipo conflito

Histórias podem acabar ficando lentas e chatas durante a exposição, mesmo quando são feitas por grandes autores. Mas quando autores inexperientes cometem o erro de usar a exposição apenas para apresentar personagens e o mundo, aí o ritmo fica insuportável.

Não. Por favor, caro leitor, não faça isso.

A exposição ainda faz parte da trama, e toda história depende do conflito e das escolhas para mover o enredo pra frente.

Caso contrário, seu leitor vai largar o seu texto após cinco páginas de chatice.

Sua exposição ainda deve ser uma boa história.

Como fazemos isso? Como garantir que sua exposição tenha conflito e decisões para que o enredo se desenvolva?

Desse jeito: assim como uma história inteira tem os seis elementos da estrutura dramática, uma cena também deve ter estes mesmos elementos.

Isso significa que cada cena, mesmo durante a exposição, deve ser dividida em exposição, um incidente incitador, ação ascendente, uma crise, um clímax e um desenlace.

Por exemplo, vejamos a cena de abertura de Romeu e Julieta, na qual os servos dos Montecchios e Capuletos brigam nas ruas. A cena pode ser dividida da seguinte forma:

  • Exposição: Dois servos dos Capuleto falam sobre seu ódio aos Montecchio.
  • Incidente Incitador: Dois servos Montecchio entram em cena, e uma discussão começa.
  • Ação Ascendente: Benvolio, um Montecchio, tenta parar a treta, mas Tybalt, um Capuleto, o insulta.
  • Dilema: Benvolio deve escolher entre lutar e quebrar a paz ou se deixar que lhe chamem de covarde.
  • Clímax: Tybalt e Benvolio lutam até que são interrompidos por cidadãos armados.
  • Desenlace: O Príncipe declara que quem quebrar a paz será executado.

3. Apresente a maioria dos seus personagens

A primeira impressão importa bastante. Como você apresenta seus personagens vai ser como eles serão lembrados pelo leitor ao longo da história. Certifique-se de que suas introduções façam com que os leitores tenham a impressão exata que você planejou.

Personagens podem ser apresentados por meio de narrativa, descrição ou monólogo interno (por meio de pensamentos), mas a melhor maneira de apresentar um personagem é por meio de diálogo e ações.

Certifique-se também de apresentar todos, ou pelo menos a maioria dos personagens importantes da história, nas cenas de exposição.

Embora você possa apresentar personagens ao longo do primeiro ato (deixar isso pra depois geralmente não é uma boa ideia), a exposição está aqui justamente para este fim.

Esta é uma lição que aprendi da maneira mais difícil em meu livro Crowdsourcing Paris, quando apresentei um personagem central no final do segundo ato.

Quando um leitor beta comentou que eu precisava apresentar o personagem mais cedo, percebi o erro que havia cometido. Então eu mudei a introdução do personagem, e isso fez a história fluir de um jeito muito melhor que antes.

4. Estabeleça o Ponto de Vista

Durante a exposição, estabeleça seu ponto de vista, e não o mude.

O ponto de vista é a perspectiva pela qual você conta a história. Ele determinará como seus leitores recebem informações, o que é crucial para a experiência de leitura.

As principais formas de ponto de vista são terceira pessoa limitada, terceira pessoa onisciente e primeira pessoa.

Assim como a exposição, o entendimento do ponto de vista é igualmente crucial para os escritores. Para saber mais a respeito, em breve lançaremos um artigo sobre este assunto.

5. Salve o Gato

Um método testado e aprovado para apresentar um personagem central é fazer com que eles “salvem o gato”, que é um termo de roteiro popularizado por Blake Snyder em seu livro de mesmo nome. O termo se refere a um personagem que faz um ato altruísta, ou pelo menos admirável, para provar que vale a pena acompanhá-lo e causar simpatia do leitor o mais cedo possível.

O termo vem de Roxeanne, um filme de 1987, estrelado por Steve Martin e Darryl Hannah. No início do filme, Martin, que tem um nariz comprido e feio, literalmente salva um gato de uma árvore, fazendo assim que você o veja de um jeito positivo, apesar de sua aparência estranha.

O ato admirável, obviamente, não precisa ser salvar um gato.

Aqui estão alguns exemplos deste recurso em histórias populares:

  • Aladdin. Depois de roubar um pão e escapar dos guardas, Aladdin oferece comida a duas crianças famintas, provando que é um ladrão com caráter.
  • Harry Potter e a Pedra Filosofal. Se ser órfão e intimidado pelo tio, tia e primo com quem vive não é suficiente para os leitores tenham simpatia com Harry, ele fica amigo de uma cobra e a salva de um cativeiro. (“Salvar a cobra” pode não parecer tão nobre, mas ainda conta!)
  • Orgulho e Preconceito. Elizabeth Bennet se destaca como alguém que merece nossa atenção quando seu pai a compara com suas irmãs, dizendo que ela é mais perspicaz do que suas irmãs. Então, mais tarde, torcemos por ela quando ela é zoada pelo Sr. Darcy e, em vez de ficar com raiva, ela só acha graça.
  • O Hobbit. Bilbo Bolseiro, como muitos de nós, anseia por aventura (por causa de sua ascendência Took, explicado por Tolkien), mas isso o deixa bem desconfortável. Esse conflito interno faz com que ele seja visto como o herói do dia-a-dia, jogado num mundo fantasioso e turbulento, de dragões e magia. Ele é gente como a gente, e sempre queremos torcer por nós mesmos.

Embora um ato altruísta ou admirável não seja necessário, é importante desenvolver de alguma forma um vínculo com seus personagens desde o início, e essa técnica é uma das melhores e mais eficientes maneiras de fazer isso.

6. Chegue logo no Incidente Incitador

Como visto nos exemplos, a exposição não deve ser longa: De meia a quatro cenas.

O ponto é ir direto ao ponto: o Incidente Incitador.

O Incidente Incitador é quando a trama começa a se mover, e uma história que não se move é uma experiência tediosa. Então não demore pra chegar lá.

Faça o que você precisa fazer para que o Incidente Incitador possa acontecer, e siga em frente o mais cedo possível.

Nem todos os livros começam com a exposição

Só porque grandes escritores entendem a definição literária de exposição e como usá-la em histórias não significa que todas elas tenham uma exposição.

Em algumas histórias, especialmente de ação, suspense ou terror, é apropriado começar com uma cena curta de tensão elevada. Existem várias maneiras de fazer isso:

In Media Res

In Media Res, do latim “no meio das coisas”, é uma técnica literária onde a história começa já no meio da ação. Isso faz com que a trama se inicie com um alto nível de tensão, aos custos de um nível menor de clareza.

O público, que não conhece nada dos personagens envolvidos na ação, pode acabar se sentindo distante ou até confuso.

No entanto, em certas histórias e gêneros, o uso imediato de uma cena de ação pode valer muito a pena.

Um bom exemplo de história que começa in medias res são quase todos os filmes da franquia Missão Impossível.

Assim como in media res, uma história que começa com um flash forward (o oposto de um flashback) começa não na exposição, mas no clímax – ou ao menos um vislumbre do que será o clímax. Ao chegar num ponto decisivo desta cena, puxamos o leitor de volta para o início da história, e aí sim começamos a exposição.

Um bom exemplo dessa técnica é em Fight Club, de Chuck Palahniuk (tanto no livro quanto no filme).

Existem desvantagens em começar com um momento de alta ação da história, seja in media res ou em um flash forward. Você pode perder a oportunidade de construir um vínculo entre seu público e seus personagens. Você também corre o risco de confundi-los e desorientá-los.

Os escritores que fazem isso bem tiram o público da ação tão rápido quanto os atraem, logo iniciando a exposição normal.

O que sempre vale para histórias de sucesso é que você precisa passar pela exposição em algum momento, mesmo que não seja na primeira cena.

Grandes Histórias começam com Tomadas de Decisões

Ao escrever uma boa história, não comece logo no momento mais climático. Também não vá muito devagar, com uma cena sem escolhas ou conflitos.

Queremos começar com uma exposição forte, usando escolhas tomadas em momentos de crise para apresentar personagens de uma forma que seu leitor possa torcer por eles, sem dar muita informação, sem criar muito movimento na trama.

Em vez disso, precisamos estabelecer a base de toda a história que acontecerá no futuro, começando com seu Incidente Incitador.

Entender a definição literária da exposição e estudar exemplos de histórias (como as abordadas neste artigo) que incluem exposição com propósito ajudará você a criar uma exposição eficiente em suas histórias

Então manda bala e divirta-se! Exercicio da escrita.

Agora que você leu este artigo, você entendeu a definição literária da exposição? Vamos colocar em prática com o seguinte exercício de escrita criativa:

Use a seguinte estrutura de história como um prompt de escrita criativa para escrever uma exposição.

  • Exposição: [Escreva aqui.]
  • Incidente Incitador: Um mestre ladrão compartilha o plano para o maior assalto de sua carreira com sua equipe.
  • Ação Ascendente: A equipe planeja o assalto.
  • Dilema: Momento de escolha. Correr o risco de perder o assalto pelo bem da equipe ou optar por salvar a equipe e desistir do lucro do assalto?
  • Clímax: O mestre ladrão abre mão do lucro, salvando sua equipe.
  • Desenlace: Perder o assalto, ou parecer perder, fazia parte do plano do ladrão, e ele divide os lucros com sua equipe.

Comece com um resumo da exposição em uma única frase. Em seguida, escreva esta exposição de forma detalhada em quinze minutos ou menos.

Quando seu tempo acabar, poste o que você escreveu nos comentários. E se você postar, procure também comentar os posts dos outros escritores.

Boa escrita!

Escrito por: RenCmps

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