Calma, respira. Isso... Agora vamos ver como pontuar a sua história.

Quando estamos escrevendo longos textos, geralmente a nossa escrita acaba não correspondendo com o que pensamos. Nos deparamos em meio a grandes explicações épicas, mas nos esquecemos que devemos, sim, pontuá-las para o correto entendimento do leitor.

O uso de vírgulas, pontos finais, reticências ou até mesmo ponto e vírgula pode não ser tão claro em uma narrativa de ficção, pois envolvem diálogos e pensamentos, na qual a ideia, por muitas vezes, vagueia para construir aquele mundo.

Então aqui, irei compilar a forma de como se deve usar e abusar das pontuações em suas narrativas.

O ponto final (.)

O ponto final (.) é o ômega e o alfa. Isso mesmo. Marca o fim de um período e o começo de um novo. Ao cantar a frase, terminada por ponto final, será marcada por uma descida no tom de voz.

Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias."

— Pablo Neruda

Em termos técnicos o ponto final marca o final de "frases" e "períodos". Veja alguns exemplos:

  • O herói encontrou o baú.
  • A magia era difícil de se aprender.
  • O coração do demônio está frio.
  • A tela de status não aparecia.

Os exemplos acima são simples, pois são períodos simples. Ao final de todo período vem um ponto final. A dificuldade aumenta quando são períodos compostos. Veja abaixo.

  • A arma não disparou, pois acabei a molhando.
  • Percebi o cheiro que vinha da cozinha.
  • O seu rosto era feio, mas confortável. Acabei me simpatizando dele.

No primeiro exemplo percebemos duas orações, compondo um período composto, claramente. "A arma não disparou" e "acabei molhando" que são interligados pela conjunção "pois".

Conhecendo as duas orações, podemos separar em dois períodos distintos. "Acabei molhando a arma. A arma não disparou." Para fazer sentido, inverti a ordem das orações, mas é o que geralmente acontece quando se exclui a conjunção.

No segundo exemplo vemos uma contração de duas orações pelo uso da conjunção "que". Nota-se as duas orações "Percebi o cheiro" e "O cheiro vinha da cozinha". Nesse caso o "cheiro" foi utilizado como sujeito e predicado em duas orações, formando um período composto.

No terceiro exemplo são mostrados 2 períodos, porém com 3 orações. A transição entre o primeiro e o segundo período é demarcado com um ponto final, pois há "ausência" de conjunção. Se inserirmos uma conjunção ali, ficaria assim: "O seu rosto era feio, mas confortável e acabei me simpatizando dele."

Vimos, portanto, que a presença ou não de uma conjunção afeta a estrutura de períodos. A definição de períodos define onde colocamos o ponto final.

Outra forma de verificar onde colocamos um ponto final é a tonalidade da voz. Uma oração terminada em vírgula termina com a voz em tom mais alto, enquanto que a terminada em ponto final o tom abaixa.

A vírgula (,)

Não, estou bem. Mas se tirar a vírgula eu fico mal.

— Tenório Cavalcante

A frase acima, de Tenório Cavalcante, ilustra uma das funções da vírgula que é a separação de duas orações. Dependendo de como as orações são compostas, a falta da vírgula pode trazer significado diferente. Então a forma mais simples e notável do uso da vírgula é pela separação de orações. Veja abaixo:

  • O rei vestia roupa, mas era transparente.
  • Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar.
  • Não era seu aniversário, portanto não merecia o presente.

Algumas conjunções como as de cima, em geral, são precedidas de vírgula. Isso facilita bastante. Dê uma pesquisada em conjunções para saber quando deve ocorrer.

Vírgulas servem também para enumerar itens. Quando queremos citar elementos que compõe uma lista, os separamos por vírgula. Veja abaixo:

  • Convidei João, Maria, Lúcia, André e Rafael para o jantar.
  • Precisava de escama de dragão, pena de cocatrice, núcleo de slime e suor de orc para a receita.
  • Teria que escolher entre Joseph, Dietrich, Giorgio ou Sam para me acompanhar.

Independente do tamanho da lista, o penúltimo item e o último item da lista são separados pela conjunção "e", para lista aditiva, ou "ou", para lista alternativa.

Orações sequenciais também podem ser separadas por vírgulas, como uma lista de ações. Veja abaixo:

Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria.

— Antônio de Alcântara Machado

São orações independentes que devem ser separadas por vírgula, mas não necessariamente por pontos finais.

Agora vamos ver mais alguns casos onde se usa vírgula. Veja exemplos abaixo:

  • O mago Merlim, conhecido por sua sabedoria, fez o anúncio.
  • Em geral, costumo não me relacionar com elfos.
  • No corredor ao lado, me escondi dos passos que vinham da sala.
  • Naquela manhã, o céu não clareou como em outros dias.

No primeiro exemplo vemos uma "explicação" no meio da frase. Essas explicações, que geralmente são apostos, devem ser separadas por vírgula do resto da frase. Jamais separe o sujeito do predicado sem o aposto ou outro tipo de explicação no meio.

No segundo, terceiro e quarto exemplo vemos o anúncio de "circunstância" no início da frase. Podem indicar modo, local, tempo, causa, finalidade, etc. São os adjuntos adverbiais. Se a frase iniciar com adjuntos adverbiais, separe por vírgula.

As reticências (...)

... Reticências...são pontinhos que usamos quando temos muito a dizer e não conseguimos dizer...

— Hélio Ribeiro

Assim como dito na frase acima, reticência podem indicar pensamentos em que houve ausência de palavras para expressar. Vamos assim dizer... Não consigo explicar. Quando durante uma sequência de pensamento ou fala, o locutor interromper seu discurso ou pensamento por algum motivo, as reticências devem ser usadas no lugar de ponto final ou vírgula.

Nesse caso a frase deve estar incompleta, podendo ter orações ou períodos completos, mas sem a completeza de frase. Veja abaixo:

  • Eu vim avisar, pois a sua mãe... (interrupção de oração)
  • Fiz do jeito que ela pediu. Me preocupo se ela vai aceitar... (interrupção de frase)

Reticência podem substituir vírgulas e pontos finais nos períodos, no entanto deve se ter o cuidado de que nesse caso as reticências podem carregar emoções e devem ser usadas somente em pensamentos e falas de personagens. Também podem ser colocados em espaços sem substituir pontuação. Veja abaixo.

  • Eu não podia me virar... Tinha que ver até o fim. (substituição de ponto final)
  • Naquela noite sombria... eu não estava preparado. (substituição de vírgula)
  • Eu... não quis... acertar... seu rosto. (sem substituição de pontuação)

As reticências em ficções são recursos poderosos na transmissão de sentimento do locutor. Elas podem demonstrar indecisões, tristeza, medo e até exaltação através da pausa na fala. Serve também para o locutor realçar o que será dito a seguir. Veja abaixo:

  • Não acredito... Eu... venci! (exaltação)
  • Eu quero esse... não... esse. (incerteza)
  • Não... Não pode ser... Ele ainda está vivo. (medo)
  • Ele me deu... o seu último... beijo. (tristeza)
  • Aquele sorriso... é encantador. (realce)

Uma dúvida que pode surgir ao final disso é: quando uso letra maiúscula ou minúscula depois das reticências? Ora é simples. Se as reticências separam um período de outro, a oração seguinte começa com letra maiúscula, senão, continua com letra minúscula. A separação de períodos podem ser percebidas pela mudança de ideia e alteração de sujeitos e predicados. Veja abaixo:

  • Beatriz se ajoelhou... bem na minha frente.
  • Beatriz se ajoelhou... Era bem na minha frente.

Para quem vai a herança?

Deixo minha fortuna a meu sobrinho não à minha irmã jamais pagarei a conta do alfaiate nada aos pobres

Pontue a frase acima, sem vírgulas e sem pontos finais. Perceberá que dependendo da pontuação, a herança pode ir para quem quiser.

Escrito por: Kamo Kronner

5 comentários :

  1. Interessante... Sanou-me de algumas dúvidas que eu possuía.

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  2. Tens aquele meu agradecimento... Obrigado!

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  3. Deixo minha fortuna a meu sobrinho, não... à minha irmã. jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres.

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  4. Ótimo artigo, como sempre!

    "Deixo minha fortuna. A meu sobrinho... não. À minha irmã, jamais! Pagarei a conta do alfaiate. Nada aos pobres."

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