5 Métodos para Construir a Voz de um Narrador

Construir uma voz de narrador que seja memorável pode ser um desafio bastante complicado. Nessa lista, veremos cinco métodos que podem encher seu narrador de personalidade:

1 – Insinue a idade através do POV (Ponto de Vista) escolhido

Quando o narrador não está diretamente envolvido na história, ou seja, um observador passivo, é bom que o narrador não tenha uma personalidade distinta.

No entanto, caso você esteja usando um narrador que está envolvido, como um em primeira pessoa, então a voz do narrador se torna importante. Assim, podemos entender mais facilmente o ponto de vista desse narrador.

Um narrador “envelhecido”, por exemplo, pode relembrar memórias com frequência, começando os parágrafos com “Eu lembro quando…” ou “Quando eu tinha 20 anos…” O narrador jovem, ao contrário do mais vivido, pode usar gírias comuns, chamando algo que eles gostam como “foda”, “irado” e outras expressões populares.

É claro, isso não é uma regra, pois o seu narrador pode muito bem usar uma voz diferente da idade que você deu a ele. O que o leitor vai pensar se uma avó olhar o corte de cabelo do neto e falar que “tá chave”? Ou talvez um narrador criança que usa palavras que só um adulto usaria?

2 – Concentre a narração nos interesses do narrador

Em Atlas das Nuvens, por David Mitchell, o narrador de um certo segmento do romance, um compositor, descreve o cenário usando comparações com instrumentos de uma orquestra.

Deixe claro os interesses de seu narrador a partir dos assuntos em que ele se concentra. Isso mostra, indiretamente, quem ele é.

Em outras palavras, o narrador não precisa dizer: “Eu sou um compositor”. Ele poderia trazer à escrita: “Os trovões lampejam num solo de percussão. Quando as pedras d’água caem contra o telhado, é como um iniciante no xilofone, apenas teclando aleatoriamente.”

3 – Use o tom dos pensamentos de um personagem

Não é apenas na Primeira Pessoa em que você pode dar uma personalidade à voz do seu narrador. Quando se escreve na narração em terceira pessoa limitada, você ainda pode criar personalidade para a narração.

Você pode fazer isso ao sobrepor o tom da narração às emoções do personagem. Vejamos um exemplo:

Que ótimo, mais uma sexta-feira com esse funk pesadão. Isso significava que Edu provavelmente estaria com uma julliete e cantaria as músicas grosseiras para aborrecer Rose em seu escritório.

Aqui, a narrativa é em terceira pessoa, ainda assim, pelo tom de “Que ótimo” e a expectativa implícita, fica claro que estamos lendo a perspectiva frustrada de Rose na situação.

4 – Dê uma característica específica para cada narrador

The Poisonwood Bible, de Barbara Kingsolver’s, nos conta a história dos Price, uma família americana que se muda para o Congo em razão do trabalho missionário.

Barbara faz, para cada filha dos Price, personas distintas nos capítulos em que elas narram. Para conseguir esse efeito, a autora dá qualidades distintas para cada narrador.

A filha mais nova, Ruth May, por exemplo, narra seus capítulos com uma voz maravilhada, curiosa e repleta da inocência de uma criança.

Um exemplo seria... Sendo jovem demais para entender a desnutrição, Ruth se pergunta:

Como alguém pode ter fome com uma barriga grande e gorda como aquela? Eu não sei.

A irmã mais velha de Ruth May, Adah Price, é muito inteligente e aleijada. Em seus capítulos, ela tem o costume de brincar com as palavras, fazendo anagramas ou escrevendo ao contrário. Por exemplo:

Andar a aprendo. Eu e caminho. Longo um é Congo o.
O Congo é um longo caminho e eu aprendo a andar.
Esse é o nome da minha história, de trás para frente e frente para trás.

Comparando as duas personagens, o leitor tem a impressão de pessoas distintas.

Apenas pela voz de cada narrador, podemos dizer que eles estão em diferentes estágios de desenvolvimento e têm diferentes perspectivas e emoções.

5 – Mostre como o seu narrador evolui

Se o seu narrador passar por mudanças consideráveis em sua história, considere a evolução da voz dele.

Um exemplo extremo é em Um Retrato do Artista quando Jovem, de James Joyce. Neste romance de amadurecimento, James começa com um estilo narrativo que reflete o protagonista como uma criança no primeiro capítulo:

Era uma vez, e foi muito bom dessa vez que a vaquinha mumu veio descendo a rua e não é que essa vaquinha mumu que vinha descendo a rua me encontra um menino bem fofo chamado Pitoco…

Mesmo que não seja Stephen, o protagonista, narrando, a própria narração imita a linguagem de uma criança ao se referir a vaca como uma “vaquinha mumu”.

Conforme a história avança, e Stephen fica mais velho, a complexidade da linguagem na narração também aumenta.

Você talvez prefira manter a voz do narrador mais velha, mesmo que no início o protagonista seja jovem.

Pense em outras formas que a voz da narrativa possa evoluir. Se, por exemplo, seu narrador começa a história jovem e cheio de otimismo, mas termina ela velho e um pouco cansado, como essa mudança poderia refletir na narração? Ele usa palavras mais negativas ou expressa dúvidas com mais frequência que antes? Ele foca mais em memórias do que eventos no presente?

Prestar atenção aos detalhes da narração dessa maneira vai ajudar a inspirar o personagem em seus narradores e criar vozes memoráveis.

Este artigo foi escrito originalmente por Jordan do site Nownovel e traduzido por Safe, membro ilustre da Novel Brasil. Eu, Rencmps, fiz apenas a edição. Obrigado por terem lido.

Escrito por: RenCmps

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